Muitos brasileiros que buscam por passagens aéreas se deparam com o nome Avianca e imediatamente recordam da companhia que operou no país com aviões vermelhos e um serviço de bordo elogiado. No entanto, a Avianca que voa hoje para destinos internacionais é a empresa colombiana, enquanto a sua “irmã” brasileira, a Avianca Brasil, teve sua trajetória encerrada de forma abrupta em 2019, deixando um vácuo no mercado e muitas dúvidas.
A história da Avianca Brasil é marcada por uma ascensão rápida, uma forte aposta na qualidade do serviço e uma crise financeira que a levou ao colapso. Entender os passos que levaram a esse desfecho é compreender um capítulo importante e turbulento da aviação comercial brasileira, uma narrativa que começou muito antes de o nome Avianca ser pintado em suas aeronaves.
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A origem da companhia remonta a 1998, mas com outro nome: OceanAir. Inicialmente, a empresa focava em voos de táxi aéreo para atender executivos e funcionários de empresas do setor de petróleo e gás na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. A transição para voos comerciais regulares começou em 2002, com rotas que conectavam destinos como Rio de Janeiro, São Paulo, Macaé e Campos.
A grande virada ocorreu quando o empresário Germán Efromovich, por meio do Synergy Group, adquiriu o controle tanto da colombiana Avianca quanto da brasileira OceanAir. A estratégia foi unificar a marca para fortalecer sua presença no continente. Em 2010, a OceanAir foi oficialmente rebatizada como Avianca Brasil, adotando a identidade visual e o padrão de serviço que a tornariam conhecida em todo o país.
A estratégia de diferenciação e o crescimento
Para competir em um mercado dominado por TAM e Gol, que focavam em operações de baixo custo, a Avianca Brasil escolheu um caminho diferente. A companhia investiu em uma proposta de valor centrada no conforto e na experiência do passageiro. Seus aviões ofereciam mais espaço entre as poltronas, um diferencial reconhecido com o selo A da ANAC, além de entretenimento individual e serviço de bordo gratuito.
Essa abordagem cativou uma parcela do público que buscava mais qualidade sem necessariamente pagar o preço de uma classe executiva. A estratégia funcionou. A empresa expandiu sua malha aérea, modernizou a frota com aeronaves Airbus A320 e A330 e viu sua participação de mercado crescer consistentemente. Em 2015, um marco importante foi alcançado: a entrada na Star Alliance, a maior aliança de companhias aéreas do mundo, o que ampliou sua conectividade internacional.
O auge da Avianca Brasil parecia sólido. A empresa era frequentemente premiada pela qualidade de seu atendimento e chegou a ser a quarta maior companhia aérea do país, transportando milhões de passageiros anualmente. O crescimento, no entanto, escondia uma estrutura financeira que se tornava cada vez mais frágil.
A expansão acelerada custou caro. A aquisição de novas aeronaves foi financiada majoritariamente por meio de leasing, um tipo de aluguel de longo prazo. Essa modalidade gera dívidas em dólar, o que deixou a companhia vulnerável às flutuações do câmbio. Quando o real se desvalorizava, o custo de operação disparava, pressionando as margens de lucro.
A turbulência que levou ao fim
A crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2014 agravou a situação. A demanda por viagens aéreas diminuiu, enquanto os custos, como o querosene de aviação, também cotado em dólar, continuavam a subir. A competição acirrada impedia que a empresa repassasse esses aumentos para o preço das passagens, espremendo ainda mais suas finanças.
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No final de 2018, a situação se tornou insustentável. Com dívidas acumuladas com arrendadores de aeronaves, aeroportos e fornecedores, a Avianca Brasil entrou com um pedido de recuperação judicial em dezembro daquele ano. O objetivo era renegociar os débitos e manter as operações em funcionamento enquanto buscava uma solução para a crise.
O processo, porém, foi marcado por uma rápida deterioração. As empresas de leasing começaram a pedir na Justiça a reintegração de posse de suas aeronaves por falta de pagamento. A frota da Avianca Brasil foi diminuindo drasticamente, dia após dia. O resultado foi uma cascata de cancelamentos de voos, que deixou milhares de passageiros em terra e gerou o caos nos aeroportos.
Um plano de reestruturação que previa leiloar seus ativos mais valiosos, os horários de pouso e decolagem (slots) nos aeroportos mais movimentados, como Congonhas e Guarulhos, não obteve sucesso. Disputas judiciais e a falta de interesse de outras companhias, que viam o processo com desconfiança, minaram a tentativa de salvar a empresa.
Em 24 de maio de 2019, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) determinou a suspensão de todas as operações da Avianca Brasil por questões de segurança, uma vez que sua capacidade operacional estava comprometida. Foi o fim da linha para a companhia aérea que um dia foi sinônimo de conforto e bom serviço nos céus do Brasil.
A falência, decretada oficialmente em 2020, encerrou a trajetória da empresa. A marca Avianca que continua a operar é a de sua matriz colombiana, que mantém voos para o Brasil, mas sem qualquer ligação operacional com a antiga aérea brasileira.
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A história da Avianca Brasil ilustra os enormes desafios do setor aéreo, onde uma estratégia de crescimento agressiva e a alta exposição ao dólar podem derrubar até mesmo as marcas mais queridas pelo público. A memória que fica é a de uma companhia que ousou ser diferente, mas que não conseguiu sustentar seu voo em meio a um cenário econômico adverso.

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