Um galo com mais de um metro de altura, leiloado por R$ 14 mil em Minas Gerais, não é apenas uma notícia curiosa. Ele é a porta de entrada para um universo pouco conhecido do agronegócio brasileiro, um setor que vai muito além da soja, do milho e do gado que dominam as exportações e o imaginário popular. Esse campo de nichos movimenta milhões com atividades surpreendentes.
Longe das grandes commodities, pequenos e médios produtores encontram em mercados específicos uma forma de se destacar com alta rentabilidade. São negócios que atendem a demandas sofisticadas, exploram a biodiversidade nacional ou simplesmente resgatam tradições com uma nova roupagem econômica. Da criação de rãs para restaurantes de luxo a insetos para alimentação, o campo brasileiro é uma caixa de surpresas.
A genética que vale ouro
O caso do galo da raça “Índio Gigante” ilustra perfeitamente o potencial desses mercados. O valor do animal não está em sua carne, mas em seu material genético. Criadores de todo o país buscam exemplares como ele para aprimorar seus plantéis, focando em aves com grande porte, beleza e resistência. É um mercado focado em exposições, torneios e na venda de ovos galados e pintinhos com linhagem nobre.
Essas aves são resultado de anos de seleção genética e manejo cuidadoso. O investimento em nutrição, sanidade e bem-estar animal é alto, mas o retorno compensa. Um único galo premiado pode gerar dezenas de milhares de reais em descendentes e sêmen, transformando um hobby em um negócio de alta performance. A avicultura ornamental, como é chamada, é um exemplo claro de como a agregação de valor pode criar um segmento próspero.
Do brejo para a alta gastronomia
Outro negócio que foge do comum é a ranicultura. A criação de rãs em cativeiro é uma atividade concentrada, mas com um público fiel e disposto a pagar bem pelo produto. A carne de rã, apreciada por seu sabor suave e textura delicada, é um ingrediente valorizado em restaurantes de alta gastronomia. Além disso, possui alto valor nutricional, com baixo teor de gordura e rica em proteínas.
Os criadores, conhecidos como ranicultores, mantêm os animais em tanques com temperatura e umidade controladas para garantir o ciclo de vida ideal, desde o girino até a fase de abate. O Brasil é um dos pioneiros na tecnologia de criação de rãs, o que permite uma produção constante e de qualidade. Embora seja um mercado menor em volume, sua rentabilidade por quilo é significativamente superior à de carnes tradicionais.
A pele da rã também tem seu valor, sendo utilizada na confecção de pequenos artigos de couro, como carteiras e pulseiras. O óleo extraído do animal tem aplicação na indústria de cosméticos. É um sistema que busca o aproveitamento integral, maximizando os lucros e a sustentabilidade da atividade.
O futuro está nos insetos e flores
A produção de insetos para consumo humano e animal é, talvez, um dos mercados mais inovadores do agronegócio atual. Embora ainda enfrente barreiras culturais, a criação de grilos, tenébrios e formigas ganha espaço como uma fonte de proteína sustentável. Ricos em nutrientes, os insetos podem ser transformados em farinha para a produção de pães, massas e barras de proteína, ou consumidos inteiros como petiscos exóticos.
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Para a alimentação animal, a criação de larvas de mosca soldado negra se destaca. Essas larvas são capazes de converter resíduos orgânicos em biomassa de alta qualidade, que serve de ingrediente para rações de peixes, aves e suínos. É uma solução de economia circular que resolve dois problemas: o descarte de resíduos e a necessidade de fontes proteicas para a produção animal.
No ramo da agricultura, o cultivo de flores comestíveis e de mini legumes também representa um nicho de alto valor. Produtos como capuchinha, amor-perfeito e mini cenouras são vendidos diretamente para chefs de cozinha, que os utilizam para decorar e saborizar pratos. A produção exige delicadeza e um controle rigoroso de qualidade, mas a recompensa financeira é expressiva, pois são vendidos por unidade ou em pequenas porções.

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