De Itamar a Tancredo: mineiros que comandaram a política em Brasília

De Itamar a Tancredo: mineiros que comandaram a política em Brasília

A recente eleição do senador Carlos Viana para a presidência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS em Brasília reacendeu uma velha certeza: a influência de Minas Gerais na política nacional. A articulação que o colocou no posto, derrotando o candidato governista Omar Aziz (PSD-AM), não é um fato isolado, mas um eco de uma longa tradição de mineiros que ocuparam o centro do poder.

Desde a Proclamação da República, Minas Gerais se destaca como um dos principais celeiros de lideranças políticas do país. Sua importância demográfica e econômica, somada à habilidade singular para a negociação e a articulação nos bastidores, transformou o estado em um protagonista frequente nos corredores do poder em Brasília. Relembrar algumas dessas trajetórias é entender como o jeito mineiro de fazer política ajudou a construir o Brasil contemporâneo.

Tancredo Neves, o arquiteto da redemocratização

No entanto, nenhum nome talvez simbolize melhor a capacidade de conciliação mineira do que o de Tancredo Neves. Com uma carreira política que atravessou diferentes regimes, de Getúlio Vargas à ditadura militar, ele se consolidou como uma figura de diálogo, respeitada por adversários e capaz de construir pontes onde parecia haver apenas abismos.

Sua maior obra política foi a costura da transição para a democracia no início dos anos 1980. Após a frustração popular com a derrota da emenda das “Diretas Já”, Tancredo emergiu como o candidato ideal para unificar a oposição e vencer a disputa no Colégio Eleitoral, um sistema indireto controlado pelos militares. Portanto, sua eleição em 1985 foi celebrada como o fim de 21 anos de regime autoritário.

A tragédia de sua morte, na véspera da posse, comoveu o país, portanto transformou sua figura em um mártir da redemocratização. Embora não tenha governado, seu legado foi a garantia de uma transição pacífica e a consolidação das bases para a nova república que nascia. Tancredo não sentou na cadeira presidencial, mas foi o principal responsável por garantir que ela voltasse a ser ocupada por um civil.

Itamar Franco e a estabilidade do Plano Real

Quando Itamar Franco assumiu a presidência em 1992, após o impeachment de Fernando Collor, o cenário era de caos. Assim, o país enfrentava uma hiperinflação que corroía salários, desorganizava a economia e minava a esperança dos brasileiros. O próprio Itamar, com seu estilo peculiar e por vezes imprevisível, era visto com desconfiança por parte do mercado e da classe política.

Contudo, foi em seu governo que se encontrou a solução para o maior problema do Brasil. Itamar teve o mérito de blindar uma equipe econômica competente e dar a ela a liberdade necessária para criar e implementar o Plano Real. O sucesso do plano, que estabilizou a moeda e acabou com a hiperinflação, mudou a vida de milhões de pessoas e redefiniu a economia brasileira para as décadas seguintes.

Sua presidência, que começou de forma acidental, terminou com uma aprovação popular expressiva. Itamar provou que, por trás de sua aparência provinciana, havia um estadista com coragem para tomar decisões duras e visão para apoiar o projeto que colocou o Brasil nos trilhos da estabilidade econômica. O Fusca que ele relançou como presidente tornou-se um símbolo de um governo que reconectou Brasília com o cidadão comum.

Juscelino Kubitschek, o visionário de Brasília

Olhar para a capital federal é lembrar-se de Juscelino Kubitschek, o presidente mineiro que personificou o otimismo e a modernização. Seu lema, “50 anos em 5”, resumia um projeto de governo audacioso que buscava acelerar o desenvolvimento do Brasil por meio de grandes investimentos em infraestrutura, indústria e energia.

O projeto mais emblemático de JK foi, sem dúvida, a construção de Brasília. Transferir a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central era um plano antigo, mas foi ele quem teve a determinação de tirá-lo do papel. Em apenas quatro anos, ergueu uma cidade modernista no meio do Cerrado, um ato que simbolizava a integração do território nacional e a aposta em um futuro grandioso.

Seu governo teve como marca um clima de efervescência cultural, com a Bossa Nova servindo de trilha sonora para um país que se sentia mais confiante. Apesar das críticas relacionadas ao aumento da dívida externa e da inflação, o legado de JK é o de um Brasil que ousou sonhar grande e que se abriu definitivamente para a modernidade industrial.

Outras lideranças de peso

A lista de mineiros influentes não para nesses três nomes. José Alencar, por exemplo, foi uma figura central durante os oito anos do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como vice-presidente, o empresário de sucesso ajudou a construir a ponte entre o governo de esquerda e o setor produtivo, garantindo a estabilidade política e econômica em um período de transição.

De Tancredo a Viana, passando por JK e Itamar, a história política do Brasil demonstra que é impossível entender os rumos do país sem olhar para Minas Gerais. A habilidade para articular, a capacidade de construir consensos e a visão estratégica continuam sendo marcas registradas que garantem aos políticos do estado um lugar de destaque no centro das decisões nacionais.

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