O mercado bilionário do ‘true crime’: quanto movimenta essa indústria?

O mercado bilionário do 'true crime': quanto movimenta essa indústria?

O interesse renovado no caso dos irmãos Menendez, que chocou os Estados Unidos em 1989, não é um fato isolado.

Ele é o sintoma mais recente de um fenômeno global que transformou a tragédia alheia em uma das indústrias mais rentáveis do entretenimento: o “true crime”.

De documentários em plataformas de streaming a podcasts que narram investigações em detalhes, o fascínio por crimes reais deixou de ser um nicho para se tornar um mercado bilionário.

Essa engrenagem movimenta cifras impressionantes, alimentada por uma audiência insaciável por histórias que exploram o lado mais sombrio da natureza humana.

Grandes players do streaming, como Netflix e HBO Max, investem milhões de dólares em produções originais que rapidamente alcançam o topo das listas de mais assistidos.

O sucesso de séries como “Dahmer: Um Canibal Americano” ou “O Golpista do Tinder” prova que um bom crime, quando bem contado, vale ouro em assinaturas e engajamento.

Quanto vale o fascínio pelo crime?

A monetização do “true crime” vai muito além das assinaturas de streaming. O mercado de podcasts, por exemplo, encontrou no gênero uma verdadeira mina de ouro.

Programas dedicados a investigar casos arquivados ou a analisar julgamentos famosos atraem milhões de ouvintes fiéis, o que, por sua vez, atrai anunciantes dispostos a pagar caro para alcançar esse público altamente engajado.

Alguns podcasts de sucesso expandem seus negócios com produtos, livros e até eventos ao vivo.

A indústria editorial também colhe os frutos. Livros que detalham investigações criminais ou biografias de assassinos em série frequentemente figuram nas listas de mais vendidos.

Cada nova grande produção audiovisual costuma gerar uma onda de interesse por publicações relacionadas, criando um ecossistema em que as diferentes mídias se retroalimentam.

O caso dos irmãos Menendez, por exemplo, viu um aumento na procura por livros e documentários antigos após o tema viralizar em redes sociais como o TikTok.

Por que não conseguimos parar de assistir?

A atração por histórias de crimes reais está profundamente enraizada na psicologia humana. Uma das principais razões é a busca por entender o que leva uma pessoa a cometer atos extremos.

O “true crime” oferece uma janela para a mente criminosa, permitindo que o público explore o mal a uma distância segura, do conforto de seu sofá. É uma forma de confrontar nossos medos mais profundos sem correr riscos reais.

Outro fator poderoso é o elemento de quebra-cabeça. Muitas narrativas são construídas como um mistério a ser resolvido, convidando o espectador a juntar as peças, analisar as evidências e tentar chegar a uma conclusão antes do desfecho.

Essa participação ativa transforma o consumo passivo em uma experiência interativa, quase como um jogo. As pessoas se sentem detetives, engajadas na busca pela verdade.

Há também um componente de preparação e aprendizado. Ao ver como as vítimas se encontraram em situações perigosas, parte do público consome esse conteúdo como um manual de sobrevivência.

Finalmente, existe a conexão com as vítimas. Muitas produções modernas focam não apenas no criminoso, mas na história de quem sofreu o crime.

Esse enfoque gera empatia e um desejo de justiça, fazendo com que a audiência se sinta investida no resultado do caso, torcendo para que a justiça seja feita e a memória da vítima seja honrada.

O limite entre informação e espetáculo

Apesar do sucesso comercial, o crescimento exponencial da indústria de “true crime” levanta importantes debates éticos. A linha que separa o jornalismo investigativo do entretenimento sensacionalista é tênue e, muitas vezes, ultrapassada.

A principal preocupação recai sobre as famílias das vítimas, que precisam reviver seus traumas a cada novo documentário ou podcast lançado sobre seu caso.

A forma como os criminosos são retratados também é um ponto de crítica. Em algumas produções, há uma romantização ou glamorização de assassinos, transformando-os em anti-heróis complexos e fascinantes.

Esse fenômeno pode distorcer a percepção pública sobre a gravidade dos crimes e ofuscar o sofrimento real causado por eles. O foco excessivo no perpetrador, em vez da vítima, é uma crítica recorrente ao gênero.

Além disso, o impacto dessas produções no sistema de justiça é real. A opinião pública, moldada por narrativas editadas para máximo impacto dramático, pode exercer pressão sobre investigações e julgamentos.

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Casos como o de “Making a Murderer” geraram petições com milhões de assinaturas e um debate nacional sobre a condenação dos envolvidos, mostrando como o entretenimento pode influenciar diretamente a vida real.

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