Falar em sabores do Brasil logo traz à mente o açaí, o cupuaçu ou o guaraná. Esses ingredientes, que ganharam o mundo, são apenas a porta de entrada para um universo gastronômico muito mais vasto e surpreendente. A biodiversidade do país esconde um cardápio de frutas, sementes e temperos que a maioria dos brasileiros sequer ouviu falar, mas que carregam a identidade de suas regiões.
São sabores que contam histórias, capazes de transformar receitas simples do dia a dia em verdadeiras experiências. Conhecer esses tesouros culinários é como fazer uma viagem por diferentes ecossistemas, do Cerrado à Amazônia, sem sair da cozinha. E o melhor: muitos deles já se encontra em mercados especializados ou pela internet, prontos para desafiar o seu paladar.
Os sabores exóticos em frutas
Pequi
Originário do Cerrado, o pequi é um fruto de personalidade forte, conhecido pelo seu cheiro e sabor marcantes. Amado por uns e odiado por outros, ele é a estrela de pratos tradicionais, como o arroz com pequi. Seu interior amarelo e macio deve ser roído com cuidado, pois a polpa esconde uma camada de espinhos finos junto ao caroço.
Seu gosto é único, uma mistura de manteiga, queijo e um toque floral difícil de descrever. Para quem quer começar, a melhor forma é utilizá-lo em conservas ou em pequenas quantidades para cozinhar frango ou carnes. Ele perfuma o prato inteiro e adiciona uma camada de sabor que nenhum outro ingrediente consegue replicar.
Umbu
Chamado de “fruto sagrado do sertão” por Euclides da Cunha na obra “Os Sertões”, o umbu é um símbolo de resistência da Caatinga. Pequeno e de casca verde ou amarelada, ele possui uma polpa suculenta e um sabor ácido refrescante, perfeito para o clima quente da região. É rico em vitamina C e um alimento fundamental para as comunidades locais.
A forma mais tradicional de consumo é a umbuzada, um creme feito com a polpa da fruta, leite e açúcar. Além disso, o umbu rende sucos, sorvetes, geleias e uma compota deliciosa. Seu sabor exótico e ácido dá um toque especial a qualquer sobremesa.
Cajá
Parente do caju e da manga, o cajá é uma pequena fruta oval de cor amarelo-alaranjada e aroma intenso. Sua polpa é fina, suculenta e bastante ácida, envolvendo um caroço grande. Assim, o sabor é tropical e vibrante, lembrando uma mistura de maracujá com manga, o que o torna extremamente refrescante.
Além disso, é um ingrediente popular no Nordeste para o preparo de sucos, mousses, sorvetes e batidas. Uma dica é o uso da polpa para fazer uma caipirinha diferente ou um molho ácido para acompanhar peixes grelhados. A acidez do cajá quebra a gordura e equilibra o sabor do prato.
Temperos que transformam pratos
Jambu
Esta erva amazônica é famosa por uma característica inusitada: ela causa uma leve dormência e um formigamento nos lábios e na língua, uma sensação que surpreende na primeira vez. As folhas e flores do jambu são ingredientes essenciais em pratos icônicos do Pará, como o tacacá e o pato no tucupi.
Hoje, se usa o jambu para inovar em casa. Imagine, por exemplo, um pesto de jambu para acompanhar uma massa, ou folhas frescas picadas em uma salada para dar um toque elétrico. Além disso, pode ser usado para infusionar cachaça, criando um destilado com uma propriedade sensorial única e divertida.
Cumaru
Conhecida como a “baunilha da Amazônia”, a semente de cumaru é uma especiaria poderosa e aromática. Seu perfume é complexo, com notas que lembram baunilha, amêndoas, canela e cravo. Apenas um pouco ralado na hora é suficiente para perfumar uma receita inteira, o que exige moderação no seu uso.
Além disso, o cumaru é perfeito para a confeitaria. Pode substituir a baunilha em pudins, crème brûlées, brigadeiros e bolos. Também funciona muito bem para aromatizar cafés, drinques à base de gim ou rum e até mesmo para dar um toque adocicado e misterioso a molhos salgados para carnes.
Tucupi
Mais um tesouro da Amazônia, o tucupi é um líquido amarelo extraído da raiz da mandioca-brava. Após ser extraído, ele precisa ser cozido por um longo período para eliminar o ácido cianídrico e se tornar seguro para o consumo. Assim, o resultado é um caldo com acidez acentuada e um sabor umami profundo, que realça o gosto dos alimentos.
É a base para o famoso tacacá, servido com goma de tapioca, jambu e camarão seco. Em casa, pode ser usado, por exemplo, como um caldo para cozinhar peixes e frango, conferindo uma acidez e complexidade incomparáveis. Além disso, experimente usá-lo como base para um risoto ou para marinar carnes antes de assar.

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