Casos recentes de grande repercussão trouxeram a doação de órgãos e a fila de transplantes para o centro das conversas no Brasil. Com isso, uma dúvida comum ressurge: o sistema brasileiro é mais rápido ou mais lento que o de outros países? A resposta é complexa e revela que, embora o Brasil tenha um dos maiores programas públicos de transplantes do mundo, a velocidade da fila depende de uma combinação de fatores, desde a cultura de doação até a estrutura do sistema de saúde.
O Brasil opera com um sistema público, universal e gratuito, gerenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A fila é única e nacional, com critérios técnicos que priorizam a gravidade do paciente, a compatibilidade sanguínea e o tempo de espera. Diferente de outros modelos, o fator financeiro não interfere na posição da lista, o que torna o acesso mais justo. No entanto, a agilidade do processo é diretamente impactada pela taxa de doação, que ainda enfrenta desafios significativos.
O modelo brasileiro: como funciona o SUS?
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o responsável por regular, controlar e monitorar todo o processo de doação e transplante no país. Quando um órgão se torna disponível, o sistema busca automaticamente por receptores compatíveis na lista única, seguindo uma ordem baseada em critérios estritamente médicos. Não há como pular etapas ou obter vantagens por questões sociais ou econômicas.
Um dos pontos centrais do modelo brasileiro é a necessidade do consentimento familiar. Mesmo que uma pessoa declare em vida o desejo de ser doadora, a autorização final cabe à família. Essa exigência é um dos principais gargalos do sistema. A taxa de recusa familiar ainda é um obstáculo para aumentar o número de órgãos disponíveis e, consequentemente, reduzir o tempo de espera na fila.
Apesar dos desafios, a estrutura do SUS é reconhecida internacionalmente por sua abrangência. Todo o procedimento, desde os exames de compatibilidade até a cirurgia e o acompanhamento pós-transplante, é coberto pelo governo. Isso garante que qualquer cidadão brasileiro tenha acesso ao tratamento, algo que não ocorre em muitos países desenvolvidos.
O sistema dos Estados Unidos: uma rede complexa
Nos Estados Unidos, o sistema é coordenado pela United Network for Organ Sharing (UNOS), uma organização privada sem fins lucrativos. A rede é fragmentada em regiões, e a espera por um órgão pode variar drasticamente dependendo do estado onde o paciente se encontra. Um paciente em Nova York pode esperar muito mais por um rim do que um paciente em Iowa, por exemplo.
A principal diferença em relação ao Brasil é o custo. O transplante nos EUA tem um valor elevado, e o acesso está diretamente ligado à cobertura do seguro de saúde do paciente. Quem não tem um plano de saúde robusto ou recursos financeiros próprios enfrenta barreiras mais graves para entrar na lista e realizar o procedimento.
O modelo de doação é do tipo “opt-in”, onde os cidadãos manifestam ativamente o desejo de serem doadores, geralmente ao tirar a carteira de motorista. Embora a conscientização seja alta, a complexidade burocrática e as disparidades regionais e financeiras tornam o sistema menos equitativo que o brasileiro.
O exemplo da Espanha: por que é uma referência mundial?
A Espanha é frequentemente citada como exemplo em doação de órgãos. O país possui a maior taxa de doadores por milhão de habitantes do mundo, o que resulta em filas de espera consideravelmente menores para a maioria dos órgãos. O sucesso do modelo espanhol se baseia em dois pilares fundamentais.
O primeiro é a legislação de consentimento presumido, ou “opt-out”. Pela lei, todo cidadão é considerado um doador em potencial, a menos que tenha registrado oficialmente em vida o desejo de não doar. Isso inverte a lógica do sistema brasileiro, colocando a responsabilidade de negar a doação no indivíduo, e não na família de autorizar.
O segundo pilar é a presença de coordenadores de transplante em todos os hospitais. São profissionais altamente treinados para identificar potenciais doadores, abordar as famílias de maneira técnica e empática e gerenciar toda a logística do processo. Essa profissionalização garante que poucas oportunidades de doação sejam perdidas.
Fila de espera: Brasil é mais rápido ou mais lento?
Comparativamente, a estrutura do sistema brasileiro é uma das mais justas do mundo, mas sua eficiência é freada pela baixa taxa de doação. Em transplantes de órgãos como rins, cuja demanda é muito alta, a espera no Brasil pode ser longa, superando a de alguns países europeus. A diálise se torna a rotina de milhares de pessoas por anos.
Para órgãos como coração e fígado, cujos transplantes são de extrema urgência, o sistema brasileiro pode ser muito ágil. A priorização por gravidade garante que os pacientes mais críticos sejam atendidos rapidamente quando um órgão compatível surge. Nesses casos, a velocidade pode ser comparável ou até superior à de sistemas como o americano, onde a logística regional pode atrasar o processo.
Portanto, não há uma resposta simples. O Brasil possui uma base sólida e equitativa, mas para que a fila ande mais rápido, é fundamental aumentar a conscientização sobre a importância da doação e incentivar que as pessoas comuniquem seu desejo à família. A experiência espanhola mostra que um sistema bem estruturado, combinado com uma cultura forte de doação, é o caminho para salvar mais vidas.
Qual a principal diferença do sistema de transplantes do Brasil para o dos EUA?
A diferença fundamental está no modelo de acesso e financiamento. No Brasil, o SUS garante um sistema público, universal e gratuito.
Nos Estados Unidos, o acesso depende da cobertura de seguros de saúde e da capacidade financeira do paciente, com custos que podem ser proibitivos.
Por que a Espanha é considerada um modelo em doação de órgãos?
A Espanha é referência por ter a maior taxa de doação do mundo. Isso se deve a uma lei de “consentimento presumido”, onde todos são doadores a menos que se oponham.
Além disso, o país investe em coordenadores de transplante profissionais em todos os hospitais, otimizando a captação de órgãos.
O que mais impede a agilidade da fila de transplantes no Brasil?
O maior obstáculo é a taxa de recusa familiar. Mesmo que a pessoa quisesse doar, a família precisa autorizar após a confirmação da morte encefálica.
A falta de comunicação em vida sobre esse desejo é um dos principais motivos para a recusa dos parentes no momento da abordagem hospitalar.
A fila do SUS para transplantes é única para todo o país?
Sim, a lista é nacional e gerenciada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Os critérios de alocação são técnicos, como gravidade e compatibilidade.
Isso assegura que fatores sociais, financeiros ou regionais não interfiram na ordem da fila, promovendo um acesso mais justo ao procedimento.
Posso escolher para quem doar meus órgãos em vida?
A doação em vida é permitida apenas para parentes de até quarto grau, como pais, filhos, irmãos, avós, tios e primos.
Para pessoas que não são da família, a doação só pode ocorrer com autorização judicial, uma medida para evitar a venda de órgãos e o tráfico humano.

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