Como o bloqueio de redes sociais acende o estopim de protestos no mundo

Bloqueios nas redes sociais são um dos motivos para protestos e crises

A renúncia do primeiro-ministro do Nepal, após intensos protestos populares, não foi um evento isolado motivado apenas por acusações de corrupção. O estopim que levou milhares de pessoas às ruas teve um componente digital decisivo: a decisão do governo de bloquear o TikTok, uma das redes sociais mais populares do país.

A medida, justificada como uma forma de proteger a “harmonia social”, foi vista pela população como um ato de censura e uma tentativa de silenciar vozes dissidentes.

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O que aconteceu em Katmandu é um reflexo de um fenômeno global crescente. Governos ao redor do mundo, de diferentes espectros políticos, estão recorrendo ao bloqueio de plataformas digitais como uma ferramenta de controle.

Seja sob o pretexto de combater a desinformação, garantir a segurança nacional ou preservar valores culturais, a suspensão de redes como TikTok, Facebook, X (antigo Twitter) e Telegram frequentemente precede ou acompanha períodos de instabilidade política e agitação social.

Um padrão global de controle

O caso do Nepal ecoa em outras nações. Na Nigéria, em 2021, o governo baniu o Twitter por meses depois que a plataforma apagou uma publicação do então presidente. A justificativa oficial foi a de que o site era usado para atividades que ameaçavam a existência do país. Para os cidadãos, especialmente os jovens que lideraram os protestos #EndSARS contra a violência policial, a ação foi uma clara retaliação para sufocar a organização de manifestações.

No Irã, os desligamentos da internet e o bloqueio de aplicativos como Instagram e WhatsApp são táticas recorrentes para desmobilizar protestos. Durante as manifestações pelos direitos das mulheres, as plataformas se tornaram canais vitais para a divulgação de informações e denúncias, levando o regime a restringir o acesso como forma de isolar os manifestantes e controlar a narrativa.

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A Índia, maior democracia do mundo, é o país que mais utiliza os chamados “internet shutdowns”. As suspensões são geralmente localizadas, afetando regiões específicas durante períodos de tensão, como na Caxemira. Embora a justificativa seja a de manter a ordem pública, críticos afirmam que a prática impede a comunicação e a cobertura da imprensa sobre possíveis violações de direitos humanos.

Por que as redes sociais são tão importantes?

A reação intensa da população a esses bloqueios se explica pelo papel central que as redes sociais ocupam na sociedade contemporânea. Elas não são apenas espaços de entretenimento, mas ferramentas essenciais para o exercício da cidadania, a organização política e a atividade econômica. Para muitos, são o principal canal de acesso à informação fora da mídia estatal.

Em regimes autoritários ou em democracias frágeis, essas plataformas dão voz a grupos marginalizados e permitem que denúncias que seriam ignoradas pela mídia tradicional ganhem visibilidade global. Elas são o palco onde movimentos sociais nascem, crescem e se articulam, permitindo a coordenação de protestos de forma rápida e eficiente.

Além do aspecto político, há um impacto econômico direto. A economia criativa, ou “creator economy”, movimenta milhões e depende do livre acesso a essas plataformas. Influenciadores digitais, pequenos empreendedores e artistas usam o TikTok, o Instagram e o YouTube como principal fonte de renda. Um bloqueio, mesmo que temporário, significa a perda de sustento para milhares de pessoas.

A justificativa oficial versus a realidade

Os governos costumam apresentar argumentos de segurança e bem-estar social para justificar os bloqueios. Alegam lutar contra fake news, discursos de ódio e conteúdos que possam incitar a violência. Embora esses problemas sejam reais e complexos, a aplicação de bloqueios generalizados é frequentemente vista como uma solução desproporcional e ineficaz.

Na prática, a censura digital muitas vezes serve para esconder a impopularidade de um governo, dificultar a organização de opositores e impedir que o mundo veja a repressão a protestos. O timing das proibições é revelador: elas costumam ocorrer em momentos de crise, perto de eleições ou em resposta a grandes manifestações populares.

A tentativa de controlar o fluxo de informação online mostra o dilema que muitos governos enfrentam. Ao mesmo tempo em que reconhecem o poder mobilizador da internet, temem perder o controle da opinião pública. O que o caso do Nepal e tantos outros demonstram é que, na era digital, silenciar a internet pode ser o caminho mais rápido para amplificar as vozes das ruas.

Por que o primeiro-ministro do Nepal renunciou?

A renúncia ocorreu após uma onda de protestos populares. As manifestações foram motivadas por acusações de corrupção e pela decisão do governo de bloquear o TikTok no país.

Quais os motivos que os governos alegam para bloquear redes sociais?

As justificativas oficiais geralmente incluem a proteção da segurança nacional e da harmonia social. Também mencionam o combate à desinformação, ao discurso de ódio e a conteúdos considerados impróprios ou ilegais.

Qual é o impacto real desses bloqueios para a população?

O impacto é político, social e econômico. Politicamente, limita a liberdade de expressão e a capacidade de organização da sociedade civil. Economicamente, prejudica milhares de pessoas que usam as plataformas como fonte de renda, como criadores de conteúdo e pequenos empresários.

Bloquear redes sociais é uma tática comum?

Sim, é uma tática cada vez mais utilizada por governos em todo o mundo. Países como Nigéria, Irã e Índia já recorreram a bloqueios de plataformas ou desligamentos da internet em momentos de tensão política ou protestos.

Como as pessoas reagem a essas proibições?

A reação é frequentemente de forte oposição. A população, especialmente os mais jovens, tende a ver os bloqueios como atos de censura e uma tentativa de silenciar vozes críticas. Isso muitas vezes leva a protestos ainda maiores, como visto no Nepal.

Esses bloqueios funcionam para conter a desinformação?

A medida é considerada desproporcional e pouco eficaz. Embora a desinformação seja um problema real, um bloqueio generalizado afeta o acesso a informações legítimas e à liberdade de expressão, sem resolver a causa do problema. Muitas vezes, os usuários recorrem a ferramentas como VPNs para contornar a proibição.

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