O mistério em torno da apreensão do segundo maior diamante do Brasil trouxe à tona uma fascinação antiga da humanidade, o poder e o perigo contidos em pedras preciosas. A investigação da Polícia Federal sobre a gema brasileira, que supostamente teria um negociante de prestígio como comprador, ecoa séculos de histórias sobre joias que carregam mais do que valor financeiro. Elas trazem lendas, sorte e, em alguns casos, maldições terríveis.
De reis a ladrões, de nobres a estrelas de cinema, a posse de certas gemas parece vir acompanhada de um preço invisível. São narrativas de desgraça, poder e tragédia que se entrelaçam com o brilho de pedras lendárias. Essas histórias transformam diamantes em protagonistas de um roteiro que atravessa gerações, alimentando a crença de que alguns objetos guardam um destino próprio para quem ousa possuí-los.
O Diamante Hope e sua trilha de infortúnios

Poucas joias são tão infames quanto o Diamante Hope. Com seu impressionante tom azul-acinzentado de 45,52 quilates, a gema carrega uma lenda de desgraça que persegue seus donos há séculos. Acredita-se que sua história amaldiçoada começou na Índia, quando foi roubado do olho de uma estátua da deusa Sita. A profanação teria selado seu destino e o de todos que o possuíssem.
O comerciante francês Jean-Baptiste Tavernier, o primeiro europeu a possuí-lo, teria sido atacado por cães selvagens pouco depois de vendê-lo ao rei Luís XIV, da França. A gema permaneceu com a realeza francesa, onde testemunhou a queda da monarquia. Diz a lenda que a rainha Maria Antonieta o usou antes de ser guilhotinada durante a Revolução Francesa.
No século XX, a socialite americana Evalyn Walsh McLean comprou o diamante, ignorando os avisos sobre sua maldição. A vida de McLean foi marcada por tragédias: seu filho morreu em um acidente de carro, sua filha faleceu de overdose e seu marido a deixou para ficar com outra mulher, morrendo depois em um hospital psiquiátrico. Atualmente, o Diamante Hope está em exibição no Museu Nacional de História Natural, em Washington, onde atrai milhões de visitantes.
Koh-i-Noor, a montanha de luz

O Koh-i-Noor, que significa “Montanha de Luz” em persa, é um dos diamantes mais famosos e controversos do mundo. Com 105,6 quilates, a pedra tem uma história que remonta há mais de 5 mil anos, passando pelas mãos de imperadores mongóis, xás iranianos, emires afegãos e marajás sikhs. A lenda diz que o diamante traz boa sorte para as mulheres que o usam, mas infortúnio e morte para os homens.
Um texto hindu antigo afirmaria que “aquele que possuir este diamante dominará o mundo, mas também conhecerá todas as suas desgraças. Somente Deus, ou uma mulher, pode usá-lo com impunidade”. A história parece confirmar a profecia. Todos os governantes masculinos que o possuíram tiveram fins violentos ou perderam seus tronos de forma trágica.
Em 1849, após a conquista britânica do Punjab, o diamante foi entregue à rainha Vitória. Desde então, ele só foi usado por consortes femininas da monarquia britânica. A joia faz parte das Joias da Coroa e está em exibição na Torre de Londres. Governos da Índia, Paquistão, Irã e Afeganistão já reivindicaram sua propriedade, tornando-o um símbolo de poder e disputa até hoje.
O Olho de Brahma, o diamante negro amaldiçoado
Conhecido como o Diamante Black Orlov, ou “O Olho de Brahma”, esta gema de 67,50 quilates tem uma origem igualmente sombria. A lenda conta que a pedra foi roubada de uma estátua do deus hindu Brahma, em Pondicherry, na Índia. O roubo teria despertado uma maldição mortal sobre todos os seus futuros proprietários.
Nos anos 1930, o diamante chegou aos Estados Unidos. Logo depois, seu negociante, J. W. Paris, saltou de um arranha-céu em Nova York, marcando a primeira de uma série de mortes misteriosas. Duas princesas russas, Nadia Vygin-Orlov e Leonila Galitsine-Bariatinsky, que foram donas da joia em épocas diferentes, também cometeram suicídio saltando de edifícios.
Para quebrar a maldição, um joalheiro decidiu recortar o diamante em três pedras menores. Aparentemente, o plano funcionou, pois desde a divisão não houve mais relatos de tragédias associadas às gemas. Ainda assim, a história do Olho de Brahma permanece como um aviso sobre as consequências de desafiar o sagrado.
O Diamante Regente, símbolo de poder e sangue

Com um brilho excepcional, o Diamante Regente é considerado um dos mais belos do mundo. Descoberto na Índia no século XVII, sua história começa com traição e violência. Um trabalhador escravizado encontrou a pedra de mais de 400 quilates e a escondeu em um ferimento na perna para fugir da mina. Ele ofereceu a gema a um capitão de navio inglês em troca de passagem segura, mas foi assassinado e roubado pelo capitão.
A pedra foi vendida a um comerciante indiano e depois adquirida por Thomas Pitt, o governador britânico de Madras, que a enviou para ser lapidada na Inglaterra. O diamante, agora com 141 quilates, foi então vendido a Filipe II, duque de Orleães e regente da França, de onde vem seu nome.
O Diamante Regente adornou a coroa de Luís XV e foi usado por Maria Antonieta. Durante a Revolução Francesa, foi roubado junto com outras joias da coroa. Anos depois, Napoleão Bonaparte o recuperou e mandou cravá-lo no cabo de sua espada. Apesar de sua beleza, a joia sempre esteve associada a poder obtido por meios violentos, refletindo sua origem sangrenta.

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