Hanami: conheça o festival japonês que celebra a beleza das cerejeiras

Hanami: conheça o festival japonês que celebra a beleza das cerejeiras

A primavera no Japão tem como marca o espetáculo da natureza que transforma a paisagem do país. Milhões de cerejeiras, conhecidas como sakura, florescem em tons de rosa e branco, criando um cenário que atrai pessoas de todo o mundo para uma celebração milenar: o Hanami, o ato de contemplar as flores.

Mais do que um simples festival, o Hanami é um dos eventos culturais mais importantes do calendário japonês. É um momento de reunião, reflexão e celebração da vida. Famílias, amigos e colegas de trabalho se encontram em parques e jardins para apreciar a beleza efêmera das flores, um costume que carrega profundos significados sobre a passagem do tempo e a importância de viver o presente.

O que é o Hanami?

A palavra “Hanami” se traduz literalmente como “ver flores”. Na prática, a tradição consiste em organizar piqueniques sob as cerejeiras em flor. Durante o dia, os parques ficam lotados de pessoas que estendem toalhas azuis no chão e compartilham comidas e bebidas, como as caixas de bentô, onigiri (bolinhos de arroz) e saquê.

A atmosfera é festiva e comunitária. Grupos de todas as idades se reúnem para conversar, cantar e, principalmente, admirar a beleza delicada das sakura. À noite, a celebração continua em muitos locais com o Yozakura, que significa “cerejeira noturna”. A população pendura lanternas de papel nas árvores, iluminando as flores e criando uma atmosfera mágica e completamente diferente da vista durante o dia.

A popularidade do evento é tão grande que conseguir um bom lugar sob uma cerejeira pode exigir planejamento. Não é raro que alguém do grupo chegue ao parque nas primeiras horas da manhã para reservar o espaço, garantindo a melhor vista para a contemplação que se estenderá por horas.

A origem e o significado da tradição

A prática de apreciar flores tem raízes antigas no Japão, originada no período Nara (710-794). Inicialmente, a atenção se voltava para as flores de ume (ameixeira), que florescem um pouco antes das cerejeiras. Foi durante o período Heian (794-1185) que a sakura ganhou o coração da corte imperial e dos samurais, tornando-se a protagonista das celebrações.

O fascínio pelas flores de cerejeira está ligado à sua simbologia. A florada dura apenas uma ou duas semanas, um período curto que representa a transitoriedade da vida e a beleza efêmera. Essa noção está profundamente conectada ao conceito budista de “mono no aware”, uma expressão que pode ser traduzida como a sensibilidade ou a empatia pelas coisas passageiras.

Para os japoneses, a sakura não é apenas uma flor bonita; ela simboliza o ciclo da existência. Seu florescimento representa a vida e o renascimento, enquanto sua queda rápida e inevitável lembra a mortalidade. Essa dualidade entre a beleza exuberante e a fragilidade da existência é o que torna o Hanami um momento tão poderoso de reflexão e apreciação.

Como o Hanami é comemorado hoje?

Atualmente, o Hanami é um fenômeno nacional que mobiliza todo o país. A Agência Meteorológica do Japão divulga anualmente a “previsão das cerejeiras” (sakura zensen), um mapa que acompanha o avanço da floração pelo arquipélago. As flores começam a aparecer no sul, na ilha de Okinawa, em janeiro, e avançam para o norte, chegando a Hokkaido em maio.

Essa previsão é acompanhada com grande interesse, pois permite que as pessoas planejem suas viagens e piqueniques para coincidir com o pico da florada em cada região. Cidades como Quioto, Tóquio e Osaka se tornam destinos principais, com seus parques, templos e castelos emoldurados pelas flores de cerejeira.

O festival também tem um forte impacto econômico. Lojas e restaurantes lançam produtos de edição limitada com tema de sakura, desde doces e bebidas até cosméticos e itens de decoração. O turismo, tanto doméstico quanto internacional, atinge seu pico durante essa temporada, mostrando a força cultural e social que a tradição mantém até hoje.

A celebração além do Japão

O encanto das cerejeiras e do Hanami atravessou fronteiras. Diversas cidades ao redor do mundo que receberam as árvores como presentes do Japão realizam seus próprios festivais. Em Washington, nos Estados Unidos, o National Cherry Blossom Festival é um evento famoso que atrai milhares de visitantes a cada primavera.

No Brasil, a cultura também fincou raízes. Cidades como Curitiba e Campos do Jordão (SP) são conhecidas por suas belas floradas de cerejeiras.

Em Belo Horizonte, a presença dessas árvores em locais como o bairro Lagoinha e o Parque Ecológico da Pampulha é resultado do trabalho de imigrantes e seus descendentes, que trouxeram um pedaço de sua cultura e o plantaram em solo brasileiro.

Essas celebrações fora do Japão, ainda que adaptadas às realidades locais, mantêm o espírito do Hanami vivo. Elas reforçam a mensagem universal de que parar para observar a natureza é uma forma de se reconectar com os ciclos da vida e valorizar a beleza que, muitas vezes, dura apenas um instante.

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