Se você é fanático de “Chaves”, provavelmente sabe que Seu Madruga era torcedor fanático do Nexaca. Afinal, na versão original do programa, uma de suas falas icônicas é justamente “Yo le voy a Necaxa!”.
O bordão, porém, não chegou até à dublagem brasileira, que preferiu traduções como “meu negócio é futebol”, evitando a menção ao time mexicano, que pouca gente no Brasil conhece.
O que muitos talvez não saibam é que o time do coração original do icônico personagem de Ramón Valdés não é uma invenção do roteiro. O Club Necaxa tem mais de um século de história e sua ligação com o seriado transformou o time em um símbolo cultural em toda a América Latina.
Leia: Cultura, história e costumes do México, a terra do eterno seriado ‘Chaves’
A menção constante ao clube na série de Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, imortalizou o nome Necaxa para gerações de espectadores na América Latina. A torcida fervorosa de Seu Madruga reflete a paixão que muitos mexicanos sentiam por uma equipe que, na época da gravação do programa, já carregava a nostalgia de um passado glorioso, mas vivia um presente de dificuldades.
A história de glórias e desaparecimentos
Fundado em 1923 por funcionários de uma companhia de luz e energia na Cidade do México, o Club Necaxa rapidamente se tornou uma potência no futebol amador do país. Na década de 1930, a equipe viveu sua era de ouro, conquistando quatro títulos da liga e ganhando o apelido de “Los Once Hermanos” (Os Onze Irmãos), uma referência ao entrosamento e à união do elenco dentro de campo.
Aquele time dominou o futebol mexicano com um estilo de jogo envolvente e se tornou uma das equipes mais populares do país. Essa fase de glórias marcou uma geração inteira de torcedores, que viam no Necaxa um símbolo de sucesso e identidade. Era o time da moda, o gigante a ser batido antes do profissionalismo tomar conta do esporte no México.
No entanto, a trajetória do clube foi marcada por instabilidade. Em 1943, com a profissionalização do futebol mexicano, o Necaxa decidiu não participar do novo sistema e desapareceu do cenário por sete anos. O time retornou em 1950, mas sem o mesmo brilho de antes. Em 1971, ano em que o seriado “Chaves” estreou, a equipe foi vendida e renomeada para Atlético Español, desaparecendo novamente.
O clube só voltaria a usar o nome Necaxa em 1982. Essa história de idas e vindas, de um passado grandioso contrastando com um presente incerto, foi o cenário perfeito para a escolha de Chespirito. Para um personagem como Seu Madruga, que vivia de memórias e se apegava ao passado para encarar um presente difícil, torcer por um time com essa trajetória fazia todo o sentido.
Por que o Necaxa foi o time escolhido?
A escolha do Necaxa para Seu Madruga não foi aleatória. Roberto Gómez Bolaños era um grande fã de futebol, mas seu time do coração era o América, um dos clubes mais ricos e vitoriosos do México. Associar seu principal rival, o Seu Madruga, a um time tão poderoso não teria o mesmo efeito cômico e dramático. A ideia era criar uma conexão que gerasse empatia.
Ao escolher o Necaxa, Chespirito atribuiu a Seu Madruga a imagem do torcedor raiz, leal a um clube que representava o azarão. Na década de 1970, quando o programa estava no auge, torcer pelo Necaxa era um ato de resistência e nostalgia. Era como torcer por um gigante adormecido, uma força do passado que lutava para sobreviver no futebol moderno.
Leia: Saúde da atriz que viveu Chiquinha, de ‘Chaves’, preocupa
Essa característica se encaixava perfeitamente na personalidade de Seu Madruga. Um homem desempregado, que devia 14 meses de aluguel e se virava com bicos, mas que mantinha o orgulho de suas convicções e de seu passado. Sua lealdade ao Necaxa era um espelho de sua própria resiliência, uma forma de se conectar com algo maior e mais glorioso que sua própria realidade.
Leia: Chiquinha e Seu Barriga têm encontro emocionante e relembram momentos de ‘Chaves’
A paixão do personagem pelo clube se tornou uma das piadas recorrentes mais famosas do seriado. As gozações de Chaves e Quico, que frequentemente o chamavam de “perdedor”, reforçavam essa imagem. Mas, para o público, a defesa apaixonada que Seu Madruga fazia de seu time o tornava ainda mais humano e cativante, transformando o Necaxa em um sinônimo de lealdade e perseverança.
O legado cultural da série para o clube
A popularidade de “Chaves” em toda a América Latina deu ao Necaxa uma fama internacional que o clube talvez nunca alcançasse apenas com seu desempenho em campo.
O próprio clube reconhece a importância dessa conexão. Ao longo dos anos, o Necaxa abraçou a associação com o seriado, utilizando a imagem de Seu Madruga em campanhas de marketing e nas redes sociais. Em diversas ocasiões, a equipe fez homenagens a Ramón Valdés e ao personagem, ciente de que grande parte de sua base de fãs fora do México foi construída graças à série.
Essa relação simbiótica mostra como a cultura pop pode influenciar o esporte de maneiras inesperadas. Um seriado de comédia mexicano conseguiu colocar um clube de futebol de porte médio no imaginário de um continente inteiro. Hoje, quando o Necaxa entra em campo, é impossível para muitos não lembrarem do morador mais carismático da vila gritando seu amor pelas cores do time.
O time do Seu Madruga em “Chaves” existe de verdade?
Sim, o Club Necaxa, time do coração de Seu Madruga, é um clube de futebol real do México. Ele foi fundado em 21 de agosto de 1923.
A equipe tem uma história rica no futebol mexicano, com períodos de grande sucesso, especialmente na era amadora, na década de 1930.
Por que o criador de “Chaves” escolheu o Necaxa para o Seu Madruga?
Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito, era torcedor do Club América, um dos times mais vitoriosos do México. Ele escolheu o Necaxa para Seu Madruga por ser um time com um passado de glórias, mas que passava por dificuldades nos anos 1970.
Essa característica de “azarão” ou de “gigante adormecido” se encaixava perfeitamente na personalidade de Seu Madruga, um personagem nostálgico e resiliente.
Qual era a história do Necaxa na época em que “Chaves” foi criado?
Na década de 1970, quando “Chaves” começou, o Necaxa vivia um momento conturbado. O clube, que havia sido uma potência nos anos 30, já não tinha o mesmo prestígio.
Em 1971, o time foi vendido e mudou de nome para Atlético Español. O nome Necaxa só foi retomado em 1982, o que reforça a ideia de que Seu Madruga era um torcedor apegado ao passado.
Como o Necaxa lidou com a fama vinda do seriado?
O clube abraçou completamente a associação com “Chaves” e Seu Madruga. Essa conexão deu ao Necaxa uma enorme popularidade internacional, especialmente na América Latina.
Ao longo dos anos, o time fez diversas homenagens ao personagem e ao ator Ramón Valdés, utilizando essa fama em suas estratégias de comunicação e marketing para se conectar com fãs de todo o mundo.

Deixe um comentário