A fama precede o nome. No futebol, a chegada de um novo treinador sempre gera expectativa, mas quando o nome é Jorge Sampaoli, a conversa ganha contornos de apreensão. A expressão “bomba-relógio” não é nova e voltou a ganhar força com seu retorno ao futebol brasileiro, ilustrando um perfil que combina genialidade tática com um temperamento explosivo e imprevisível.
O argentino, no entanto, não está sozinho. O futebol brasileiro se tornou um destino comum para comandantes estrangeiros que, além de implantarem novos conceitos de jogo, trouxeram na bagagem personalidades fortes. Eles acumulam títulos, elogios pela intensidade de suas equipes e uma longa lista de polêmicas, atritos e saídas conturbadas. Conheça cinco exemplos de técnicos estrangeiros de gênio forte que marcaram o país.
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Jorge Sampaoli

O ponto de partida desta lista é o próprio Sampaoli. Sua passagem pelo Santos em 2019 encantou o país com um futebol ofensivo e veloz, levando um time com recursos limitados ao vice-campeonato brasileiro. No Atlético, conquistou o estadual e brigou pelo título nacional, mas em ambos os trabalhos o roteiro se repetiu: exigências constantes por reforços, atritos com a diretoria e um ambiente de alta pressão.
Sua passagem pelo Flamengo, em 2023, foi o ápice de sua instabilidade. Apesar do alto investimento, o time não engrenou e o clima interno se deteriorou, culminando em um episódio de agressão física entre membros de sua comissão técnica e um jogador. Sampaoli é a personificação do treinador que vive no limite, capaz de extrair o máximo de seus atletas, mas também de implodir um vestiário com a mesma intensidade.
Abel Ferreira

Se Sampaoli é instabilidade, Abel Ferreira é a intensidade convertida em títulos. O português transformou o Palmeiras em uma máquina de vencer, acumulando duas Copas Libertadores e inúmeros outros troféus. Seu sucesso é inegável, assim como sua personalidade vulcânica à beira do campo. Abel coleciona cartões amarelos e vermelhos por reclamações efusivas e confrontos com a arbitragem.
Fora de campo, suas entrevistas coletivas são um espetáculo à parte. Ele não hesita em criticar o calendário do futebol brasileiro, a qualidade dos gramados ou o que considera perseguição da imprensa. Para a torcida palmeirense, sua paixão é um reflexo do comprometimento com o clube. Para os rivais e críticos, seu comportamento é visto como arrogante e desrespeitoso. É um personagem que divide opiniões, mas entrega resultados.
Jorge Jesus

O “Mister” chegou ao Flamengo em 2019 e, em apenas seis meses, mudou o patamar do clube e do futebol brasileiro. Com um estilo de jogo dominante e treinos obsessivos, conquistou o Campeonato Brasileiro e a Libertadores, deixando um legado que perdura até hoje. Seu impacto foi tão grande quanto sua personalidade centralizadora e exigente.
Jorge Jesus era conhecido por controlar todos os aspectos do departamento de futebol, o que gerou desgastes com a diretoria e até com jogadores consagrados. Sua busca incessante pela perfeição criava um ambiente de pressão constante. A idolatria da torcida contrastava com as notícias de bastidores sobre seu gênio difícil. Sua saída repentina para o Benfica, em 2020, foi sentida como uma traição por muitos, selando sua imagem de comandante genial, mas implacável.
Eduardo Coudet

O argentino Eduardo Coudet, conhecido como “Chacho”, também se encaixa no perfil do treinador intenso que não tem medo do confronto. Em sua primeira passagem pelo Internacional, em 2020, montou um time competitivo que liderou o Brasileirão por várias rodadas. No entanto, sua saída no meio da temporada para assumir o Celta de Vigo, da Espanha, deixou um rastro de frustração e acusações de falta de comprometimento.
Anos depois, no Atlético, o padrão se repetiu. Após um bom início e a conquista do Campeonato Mineiro, Coudet entrou em rota de colisão com a diretoria. Em uma entrevista coletiva, expôs publicamente promessas não cumpridas sobre reforços, minando o ambiente interno. A relação se tornou insustentável e sua saída foi inevitável, confirmando sua reputação de profissional competente, mas de relacionamento complicado.
Juan Carlos Osorio

O colombiano Juan Carlos Osorio teve uma passagem relativamente curta pelo São Paulo em 2015, mas deixou uma marca profunda. Com seus métodos de trabalho inovadores, incluindo um famoso e controverso rodízio de jogadores, ele tentou implementar uma mentalidade diferente no clube. Sua abordagem acadêmica e suas anotações constantes na beira do campo o tornaram uma figura peculiar.
Apesar de um bom relacionamento com o elenco, Osorio também teve atritos com a diretoria por conta de promessas de reforços não cumpridas e pela venda de jogadores importantes. Sua personalidade metódica e, por vezes, teimosa, gerava desconfiança. A polêmica maior veio com sua saída: ele aceitou um convite para dirigir a seleção do México no meio da temporada, quebrando o contrato e deixando o São Paulo em uma situação delicada no Campeonato Brasileiro.

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