A expressão “bomba relógio” voltou a circular no futebol brasileiro com o retorno do técnico Jorge Sampaoli. O termo descreve treinadores de ponta com personalidades fortes, cujas passagens por clubes são marcadas por intensidade, polêmicas e, frequentemente, um fim abrupto. Para as diretorias, a contratação de um perfil assim vai além do debate sobre táticas e resultados em campo.
O verdadeiro desafio está nos cofres. Contratar um técnico de renome com histórico de instabilidade representa uma aposta financeira de alto risco. O custo total dessa operação envolve salários elevados, multas rescisórias milionárias e uma pressão constante por investimentos em novos jogadores, transformando o planejamento do clube em um campo minado.
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Os pilares do custo de um técnico instável
O primeiro e mais visível impacto financeiro está no salário. Profissionais com currículos internacionais negociam seus vencimentos em dólar ou euro, o que expõe os clubes brasileiros à variação cambial. Esses valores costumam colocar o treinador e sua comissão técnica entre os mais bem pagos de todo o elenco, representando um compromisso fixo e pesado no orçamento mensal.
Esse investimento inicial, no entanto, é apenas a ponta do iceberg. O maior risco financeiro reside nas cláusulas contratuais, especialmente na multa rescisória. Para se proteger da impaciência por resultados que caracteriza o futebol nacional, esses técnicos exigem contratos com multas elevadas em caso de demissão. Se o trabalho não engrena, o clube se vê em uma encruzilhada, manter um projeto caro que não dá retorno ou arcar com uma indenização milionária para encerrar o vínculo.
Esse ciclo de contratação e demissão pode gerar um efeito cascata. Um clube que paga uma multa rescisória alta fica com menos recursos para investir no sucessor, o que pode levar a escolhas menos qualificadas e a um novo fracasso. O prejuízo, portanto, não é apenas imediato, mas compromete a capacidade de investimento do clube a médio e longo prazo.
Outro pilar desse custo é a exigência por reforços. Treinadores com filosofias de jogo muito específicas, como Sampaoli, frequentemente condicionam seu trabalho à chegada de jogadores que se encaixem em seu modelo. A diretoria se vê pressionada a ir ao mercado e gastar valores que não estavam previstos no planejamento original. Essa “lista de compras” inflaciona a folha salarial e o valor do elenco de forma repentina.
O problema se agrava quando o técnico é demitido poucos meses depois. Os jogadores contratados a seu pedido podem não se encaixar no sistema do novo comandante, transformando-se em ativos desvalorizados e de difícil negociação. O clube fica com atletas caros, que rendem pouco em campo e têm baixo valor de revenda, gerando um prejuízo duplo.
O preço da falta de continuidade
Além dos custos diretos, a aposta em um técnico “bomba relógio” traz um prejuízo intangível, mas igualmente danoso: a quebra no planejamento esportivo. Cada troca de comando significa uma mudança de filosofia, de metodologia de treinos e de critérios para avaliação de jogadores. Essa falta de continuidade impede a consolidação de um estilo de jogo e o desenvolvimento de atletas da base.
Projetos de longo prazo são abandonados, e o foco se volta inteiramente para a obtenção de resultados imediatos para justificar o alto investimento. A pressão sobre o elenco aumenta, o ambiente de trabalho pode se tornar volátil e a identidade do clube se perde em meio a mudanças constantes. No fim, o custo de um técnico “bomba relógio” é medido não apenas em milhões, mas também na instabilidade que ele deixa para trás.

O que significa um técnico ser uma “bomba relógio”?
É um termo usado para descrever treinadores de alto nível, mas com temperamento forte e histórico de passagens curtas e conturbadas pelos clubes.
Eles são conhecidos por gerar atritos internos, ter uma gestão centralizadora e, frequentemente, deixar os times de forma abrupta antes do fim do contrato.
Por que os clubes contratam técnicos “bomba relógio”?
A contratação é uma aposta em resultados rápidos. Diretorias pressionadas por torcedores e pela imprensa buscam um nome de peso para gerar impacto imediato.
A esperança é que a qualidade técnica e a intensidade do treinador se traduzam em títulos, justificando o alto investimento e o risco de instabilidade.
A multa rescisória é o maior problema financeiro?
Embora seja um valor muito alto, a multa é apenas parte do problema. A exigência por reforços pode ter um impacto financeiro ainda maior a longo prazo.
Os jogadores contratados a pedido do técnico podem se desvalorizar após sua saída, deixando o clube com um elenco caro e pouco funcional para o sucessor.

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