Países que ainda não existem oficialmente, mas talvez um dia existirão

O recente reconhecimento da Palestina como Estado por nações europeias como Espanha, Irlanda e Noruega trouxe de volta ao debate uma questão fundamental da geopolítica: o que é preciso para que um país exista oficialmente? A resposta não é simples e envolve um complexo jogo de poder, diplomacia e direito internacional que vai muito além de ter um território ou uma bandeira.

Enquanto a causa palestina ganha novos contornos no cenário global, ela ilumina a situação de diversas outras regiões que compartilham o mesmo objetivo. De movimentos históricos na Europa a disputas em outras partes do mundo, o desejo por autodeterminação e por um assento na Organização das Nações Unidas (ONU) alimenta as esperanças de milhões de pessoas que vivem em nações que, por enquanto, só existem no papel ou no coração de seu povo.

Para a comunidade internacional, a criação de um novo Estado soberano geralmente segue os critérios estabelecidos pela Convenção de Montevidéu, de 1933. Embora não seja uma lei universalmente imposta, ela serve como o principal guia. Segundo o documento, uma nação precisa ter quatro elementos essenciais: uma população permanente, um território definido, um governo próprio e a capacidade de manter relações com outros Estados.

Cumprir esses requisitos, no entanto, é apenas o primeiro passo. O verdadeiro desafio é obter o reconhecimento de outros países, especialmente das potências mundiais e de órgãos multilaterais como a ONU. Sem esse aval diplomático, um país pode funcionar de forma independente na prática, mas permanece isolado no cenário internacional, com acesso limitado a acordos comerciais, empréstimos e cooperação global. É essa busca por legitimidade que define a luta de muitos povos.

Regiões que buscam a independência

Além da Palestina, diversos outros territórios ao redor do globo possuem movimentos separatistas ativos, cada um com suas particularidades históricas, culturais e políticas. Conheça alguns dos casos mais conhecidos que podem, um dia, redesenhar o mapa-múndi como o conhecemos hoje.

Catalunha

Localizada no nordeste da Espanha, a Catalunha possui uma identidade cultural e um idioma próprios, além de ser uma das regiões mais ricas do país. O movimento pela independência ganhou força na última década, culminando em um referendo em 2017, que foi declarado ilegal pelo governo espanhol. A questão catalã provoca uma tensão constante na política espanhola. Os defensores da independência argumentam que a região contribui mais com impostos do que recebe em investimentos, enquanto os opositores defendem a unidade territorial da Espanha, conforme previsto na Constituição de 1978.

Escócia

Parte do Reino Unido, a Escócia também tem um forte movimento separatista. Em 2014, um referendo sobre a independência foi realizado, e a maioria dos eleitores optou por permanecer no Reino Unido. Contudo, a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, reacendeu o debate. Muitos escoceses, que votaram majoritariamente pela permanência na UE, veem a independência como uma forma de retornar ao bloco econômico. O Partido Nacional Escocês (SNP), que governa a região, continua a pressionar por uma nova consulta popular, embora o governo britânico se oponha.

Curdistão

O povo curdo é uma das maiores nações sem Estado do mundo, com uma população estimada em mais de 30 milhões de pessoas espalhadas por territórios na Turquia, Iraque, Irã e Síria. A busca por um Curdistão independente é um dos conflitos mais antigos e complexos do Oriente Médio. No Iraque, a Região Autônoma do Curdistão já possui seu próprio governo e forças armadas. Em 2017, realizaram um referendo de independência com apoio massivo da população, mas a votação não foi reconhecida pelo governo iraquiano nem pela comunidade internacional, que teme a desestabilização da região.

Quebec

A província de Quebec, no Canadá, é outro exemplo de uma região com um forte movimento separatista baseado em uma identidade linguística e cultural distinta. De maioria francófona, Quebec já realizou dois referendos sobre sua soberania, em 1980 e 1995. No último, a opção pela permanência no Canadá venceu por uma margem muito pequena, com 50,58% dos votos. Embora o movimento tenha perdido força nas últimas décadas, a questão da soberania de Quebec continua a ser um tema latente na política canadense, defendida por partidos como o Parti Québécois.

República de Somalilândia

Este é um caso particular e menos conhecido. A Somalilândia declarou sua independência da Somália em 1991, após uma guerra civil devastadora. Desde então, a região funciona como um país de fato: possui seu próprio governo democrático, moeda, exército e instituições estáveis. Apesar de manter a paz e a estabilidade em uma região marcada por conflitos, nenhum país do mundo reconhece oficialmente a Somalilândia como uma nação soberana. A falta de reconhecimento a impede de acessar ajuda internacional e participar da economia global, ilustrando a importância crucial da diplomacia.

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