Autor: Gabriel Lélis

  • Acordo de Basileia: entenda a regra que protege seu dinheiro no banco

    Acordo de Basileia: entenda a regra que protege seu dinheiro no banco

    Você já se perguntou o que garante que o dinheiro depositado no seu banco estará lá amanhã? Por trás da aparente simplicidade de uma conta-corrente ou de uma poupança, existe uma complexa rede de segurança global. Assim, uma de suas peças mais importantes atende pelo nome de Acordo de Basileia.

    Apesar do nome técnico, a ideia é bastante direta: criar um conjunto de regras internacionais para que os bancos operem de forma mais segura e sólida. O objetivo é proteger não apenas o dinheiro dos clientes, mas toda a economia de crises financeiras, como a que abalou o mundo em 2008.

    O que é o Acordo de Basileia?

    Imagine o Acordo de Basileia como um manual de boas práticas para instituições financeiras. Ele foi criado pelo Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (BCBS, na sigla em inglês), um órgão que reúne autoridades de diversos países, incluindo o Brasil.

    A principal função dessas regras é exigir que os bancos mantenham uma reserva de capital mínima. Assim, esse “colchão” financeiro serve para absorver perdas inesperadas e garante que a instituição não quebre diante de uma crise ou de um aumento súbito na inadimplência de seus clientes.

    Em outras palavras, o acordo força os bancos a serem mais prudentes. Ele estabelece um padrão internacional que dificulta a ocorrência de um efeito dominó, onde a falência de um grande banco poderia arrastar todo o sistema financeiro junto.

    Os três pilares da segurança bancária

    Para funcionar de maneira eficaz, o Acordo de Basileia se apoia em três eixos principais, conhecidos como pilares. Cada um deles aborda um aspecto diferente da segurança e da estabilidade do sistema.

    1. Os requisitos mínimos de capital. Eles definem quanto dinheiro o banco precisa ter guardado em relação aos seus ativos de risco. Por exemplo, um empréstimo para uma empresa com histórico de dívidas é mais arriscado do que um financiamento imobiliário. O acordo exige que o banco tenha mais capital reservado para cobrir o risco maior.
    2. Não basta criar regras, mas é preciso fiscalizar. Esse pilar determina que os bancos centrais de cada país, como o Banco Central do Brasil, devem monitorar de perto suas instituições financeiras para garantir que elas estão calculando os riscos corretamente e cumprindo as exigências de capital.
    3. Por fim, a disciplina de mercado. Ela exige que os bancos sejam transparentes e publiquem informações detalhadas sobre seus riscos e seu nível de capitalização. Assim, clientes, investidores e o mercado em geral podem avaliar a saúde financeira da instituição para criar uma pressão natural para que ela se mantenha sólida.

    A evolução das regras ao longo do tempo

    O Acordo de Basileia não é estático. Ele evoluiu para responder aos novos desafios da economia global. A primeira versão, conhecida como Basileia I, surgiu em 1988 e era mais simples, focada principalmente no risco de crédito, ou seja, no perigo de os empréstimos não serem pagos.

    Em 2004, surgiu Basileia II, uma versão mais sofisticada que incluiu o risco operacional (falhas internas, fraudes, erros humanos) e o risco de mercado (perdas causadas por oscilações de preços). No entanto, essa versão se mostrou insuficiente para evitar a grande crise financeira de 2008.

    Como resposta direta à crise, foi criado Basileia III. Implementado a partir de 2010, ele tornou as regras muito mais rigorosas. Passou a exigir que os bancos tivessem mais capital, e de melhor qualidade, além de introduzir novas exigências de liquidez, garantindo que as instituições tenham dinheiro em caixa para honrar seus compromissos de curto prazo.

    Como isso afeta o seu dia a dia?

    Toda essa discussão pode parecer distante, mas o Acordo de Basileia tem um impacto direto na sua vida financeira. A consequência mais importante é a segurança. As regras tornam o sistema bancário mais resiliente e diminuem drasticamente a chance de você perder o dinheiro que confia ao seu banco.

    Além disso, ao prevenir crises financeiras, o acordo ajuda a manter a estabilidade da economia. Crises bancárias geralmente levam a recessões, aumento do desemprego e dificuldade de acesso ao crédito para empresas e pessoas. Manter os bancos saudáveis é uma forma de proteger a economia como um todo.

    Por outro lado, há um debate sobre como essas regras afetam o custo do crédito. Ao exigir que os bancos mantenham mais capital guardado, a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos pode diminuir. Isso torna o crédito um pouco mais caro ou mais difícil de obter. É um equilíbrio delicado entre segurança e estímulo à atividade econômica.

    O desafio das criptomoedas

    Recentemente, o Acordo de Basileia voltou aos holofotes por causa das criptomoedas. O comitê propôs regras específicas para a exposição dos bancos a esses ativos. Devido à alta volatilidade e risco, a recomendação é que, para cada real que um banco invista em criptoativos, como o Bitcoin, ele precise manter outro real em suas reservas de capital.

    Essa exigência, na prática, torna a operação com criptomoedas muito cara para os grandes bancos. A medida visa proteger o sistema financeiro tradicional da instabilidade do mercado cripto, evitando que uma queda brusca nesse setor contagie as instituições que guardam o dinheiro da maior parte da população.

  • De Itamar a Tancredo: mineiros que comandaram a política em Brasília

    De Itamar a Tancredo: mineiros que comandaram a política em Brasília

    A recente eleição do senador Carlos Viana para a presidência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS em Brasília reacendeu uma velha certeza: a influência de Minas Gerais na política nacional. A articulação que o colocou no posto, derrotando o candidato governista Omar Aziz (PSD-AM), não é um fato isolado, mas um eco de uma longa tradição de mineiros que ocuparam o centro do poder.

    Desde a Proclamação da República, Minas Gerais se destaca como um dos principais celeiros de lideranças políticas do país. Sua importância demográfica e econômica, somada à habilidade singular para a negociação e a articulação nos bastidores, transformou o estado em um protagonista frequente nos corredores do poder em Brasília. Relembrar algumas dessas trajetórias é entender como o jeito mineiro de fazer política ajudou a construir o Brasil contemporâneo.

    Tancredo Neves, o arquiteto da redemocratização

    No entanto, nenhum nome talvez simbolize melhor a capacidade de conciliação mineira do que o de Tancredo Neves. Com uma carreira política que atravessou diferentes regimes, de Getúlio Vargas à ditadura militar, ele se consolidou como uma figura de diálogo, respeitada por adversários e capaz de construir pontes onde parecia haver apenas abismos.

    Sua maior obra política foi a costura da transição para a democracia no início dos anos 1980. Após a frustração popular com a derrota da emenda das “Diretas Já”, Tancredo emergiu como o candidato ideal para unificar a oposição e vencer a disputa no Colégio Eleitoral, um sistema indireto controlado pelos militares. Portanto, sua eleição em 1985 foi celebrada como o fim de 21 anos de regime autoritário.

    A tragédia de sua morte, na véspera da posse, comoveu o país, portanto transformou sua figura em um mártir da redemocratização. Embora não tenha governado, seu legado foi a garantia de uma transição pacífica e a consolidação das bases para a nova república que nascia. Tancredo não sentou na cadeira presidencial, mas foi o principal responsável por garantir que ela voltasse a ser ocupada por um civil.

    Itamar Franco e a estabilidade do Plano Real

    Quando Itamar Franco assumiu a presidência em 1992, após o impeachment de Fernando Collor, o cenário era de caos. Assim, o país enfrentava uma hiperinflação que corroía salários, desorganizava a economia e minava a esperança dos brasileiros. O próprio Itamar, com seu estilo peculiar e por vezes imprevisível, era visto com desconfiança por parte do mercado e da classe política.

    Contudo, foi em seu governo que se encontrou a solução para o maior problema do Brasil. Itamar teve o mérito de blindar uma equipe econômica competente e dar a ela a liberdade necessária para criar e implementar o Plano Real. O sucesso do plano, que estabilizou a moeda e acabou com a hiperinflação, mudou a vida de milhões de pessoas e redefiniu a economia brasileira para as décadas seguintes.

    Sua presidência, que começou de forma acidental, terminou com uma aprovação popular expressiva. Itamar provou que, por trás de sua aparência provinciana, havia um estadista com coragem para tomar decisões duras e visão para apoiar o projeto que colocou o Brasil nos trilhos da estabilidade econômica. O Fusca que ele relançou como presidente tornou-se um símbolo de um governo que reconectou Brasília com o cidadão comum.

    Juscelino Kubitschek, o visionário de Brasília

    Olhar para a capital federal é lembrar-se de Juscelino Kubitschek, o presidente mineiro que personificou o otimismo e a modernização. Seu lema, “50 anos em 5”, resumia um projeto de governo audacioso que buscava acelerar o desenvolvimento do Brasil por meio de grandes investimentos em infraestrutura, indústria e energia.

    O projeto mais emblemático de JK foi, sem dúvida, a construção de Brasília. Transferir a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central era um plano antigo, mas foi ele quem teve a determinação de tirá-lo do papel. Em apenas quatro anos, ergueu uma cidade modernista no meio do Cerrado, um ato que simbolizava a integração do território nacional e a aposta em um futuro grandioso.

    Seu governo teve como marca um clima de efervescência cultural, com a Bossa Nova servindo de trilha sonora para um país que se sentia mais confiante. Apesar das críticas relacionadas ao aumento da dívida externa e da inflação, o legado de JK é o de um Brasil que ousou sonhar grande e que se abriu definitivamente para a modernidade industrial.

    Outras lideranças de peso

    A lista de mineiros influentes não para nesses três nomes. José Alencar, por exemplo, foi uma figura central durante os oito anos do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como vice-presidente, o empresário de sucesso ajudou a construir a ponte entre o governo de esquerda e o setor produtivo, garantindo a estabilidade política e econômica em um período de transição.

    De Tancredo a Viana, passando por JK e Itamar, a história política do Brasil demonstra que é impossível entender os rumos do país sem olhar para Minas Gerais. A habilidade para articular, a capacidade de construir consensos e a visão estratégica continuam sendo marcas registradas que garantem aos políticos do estado um lugar de destaque no centro das decisões nacionais.

  • Hanami: conheça o festival japonês que celebra a beleza das cerejeiras

    Hanami: conheça o festival japonês que celebra a beleza das cerejeiras

    A primavera no Japão tem como marca o espetáculo da natureza que transforma a paisagem do país. Milhões de cerejeiras, conhecidas como sakura, florescem em tons de rosa e branco, criando um cenário que atrai pessoas de todo o mundo para uma celebração milenar: o Hanami, o ato de contemplar as flores.

    Mais do que um simples festival, o Hanami é um dos eventos culturais mais importantes do calendário japonês. É um momento de reunião, reflexão e celebração da vida. Famílias, amigos e colegas de trabalho se encontram em parques e jardins para apreciar a beleza efêmera das flores, um costume que carrega profundos significados sobre a passagem do tempo e a importância de viver o presente.

    O que é o Hanami?

    A palavra “Hanami” se traduz literalmente como “ver flores”. Na prática, a tradição consiste em organizar piqueniques sob as cerejeiras em flor. Durante o dia, os parques ficam lotados de pessoas que estendem toalhas azuis no chão e compartilham comidas e bebidas, como as caixas de bentô, onigiri (bolinhos de arroz) e saquê.

    A atmosfera é festiva e comunitária. Grupos de todas as idades se reúnem para conversar, cantar e, principalmente, admirar a beleza delicada das sakura. À noite, a celebração continua em muitos locais com o Yozakura, que significa “cerejeira noturna”. A população pendura lanternas de papel nas árvores, iluminando as flores e criando uma atmosfera mágica e completamente diferente da vista durante o dia.

    A popularidade do evento é tão grande que conseguir um bom lugar sob uma cerejeira pode exigir planejamento. Não é raro que alguém do grupo chegue ao parque nas primeiras horas da manhã para reservar o espaço, garantindo a melhor vista para a contemplação que se estenderá por horas.

    A origem e o significado da tradição

    A prática de apreciar flores tem raízes antigas no Japão, originada no período Nara (710-794). Inicialmente, a atenção se voltava para as flores de ume (ameixeira), que florescem um pouco antes das cerejeiras. Foi durante o período Heian (794-1185) que a sakura ganhou o coração da corte imperial e dos samurais, tornando-se a protagonista das celebrações.

    O fascínio pelas flores de cerejeira está ligado à sua simbologia. A florada dura apenas uma ou duas semanas, um período curto que representa a transitoriedade da vida e a beleza efêmera. Essa noção está profundamente conectada ao conceito budista de “mono no aware”, uma expressão que pode ser traduzida como a sensibilidade ou a empatia pelas coisas passageiras.

    Para os japoneses, a sakura não é apenas uma flor bonita; ela simboliza o ciclo da existência. Seu florescimento representa a vida e o renascimento, enquanto sua queda rápida e inevitável lembra a mortalidade. Essa dualidade entre a beleza exuberante e a fragilidade da existência é o que torna o Hanami um momento tão poderoso de reflexão e apreciação.

    Como o Hanami é comemorado hoje?

    Atualmente, o Hanami é um fenômeno nacional que mobiliza todo o país. A Agência Meteorológica do Japão divulga anualmente a “previsão das cerejeiras” (sakura zensen), um mapa que acompanha o avanço da floração pelo arquipélago. As flores começam a aparecer no sul, na ilha de Okinawa, em janeiro, e avançam para o norte, chegando a Hokkaido em maio.

    Essa previsão é acompanhada com grande interesse, pois permite que as pessoas planejem suas viagens e piqueniques para coincidir com o pico da florada em cada região. Cidades como Quioto, Tóquio e Osaka se tornam destinos principais, com seus parques, templos e castelos emoldurados pelas flores de cerejeira.

    O festival também tem um forte impacto econômico. Lojas e restaurantes lançam produtos de edição limitada com tema de sakura, desde doces e bebidas até cosméticos e itens de decoração. O turismo, tanto doméstico quanto internacional, atinge seu pico durante essa temporada, mostrando a força cultural e social que a tradição mantém até hoje.

    A celebração além do Japão

    O encanto das cerejeiras e do Hanami atravessou fronteiras. Diversas cidades ao redor do mundo que receberam as árvores como presentes do Japão realizam seus próprios festivais. Em Washington, nos Estados Unidos, o National Cherry Blossom Festival é um evento famoso que atrai milhares de visitantes a cada primavera.

    No Brasil, a cultura também fincou raízes. Cidades como Curitiba e Campos do Jordão (SP) são conhecidas por suas belas floradas de cerejeiras.

    Em Belo Horizonte, a presença dessas árvores em locais como o bairro Lagoinha e o Parque Ecológico da Pampulha é resultado do trabalho de imigrantes e seus descendentes, que trouxeram um pedaço de sua cultura e o plantaram em solo brasileiro.

    Essas celebrações fora do Japão, ainda que adaptadas às realidades locais, mantêm o espírito do Hanami vivo. Elas reforçam a mensagem universal de que parar para observar a natureza é uma forma de se reconectar com os ciclos da vida e valorizar a beleza que, muitas vezes, dura apenas um instante.

  • O programa espacial brasileiro que talvez você não conheça

    O programa espacial brasileiro que talvez você não conheça

    O cancelamento de uma conferência espacial militar que seria organizada em conjunto pela Força Aérea Brasileira (FAB) e pelos Estados Unidos trouxe à tona não apenas uma crise diplomática, mas também a curiosidade sobre um setor estratégico do Brasil: o programa espacial do país.

    Longe dos holofotes, o programa espacial brasileiro acumula feitos importantes e desenvolve tecnologias que impactam diretamente o dia a dia da população, da previsão do tempo ao monitoramento da Amazônia.

    Enquanto a Base de Alcântara, no Maranhão, é a face mais conhecida desse esforço, o trabalho vai muito além. O Brasil projeta, constrói e opera seus próprios satélites, participa de cooperações internacionais e busca autonomia no acesso ao espaço. Conhecer essa trajetória é entender uma área fundamental para a soberania e o desenvolvimento tecnológico do país.

    Os satélites que vigiam o Brasil

    O grande sucesso do programa espacial brasileiro está na sua capacidade de desenvolver satélites. Essa jornada começou em 1993, com o lançamento do SCD-1, o primeiro equipamento do tipo inteiramente projetado e construído no país. Ainda em operação, ele coleta dados ambientais de plataformas espalhadas pelo território nacional, um marco de resistência tecnológica.

    A partir daí, a expertise nacional cresceu. Um dos projetos mais duradouros e bem-sucedidos é o CBERS, uma parceria com a China que já dura mais de três décadas. A sigla significa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres. Essa colaboração já rendeu seis satélites lançados, fornecendo imagens cruciais para o monitoramento de desmatamentos, a expansão agrícola e o planejamento urbano.

    As imagens geradas pelo programa CBERS são distribuídas gratuitamente e usadas por diversas instituições governamentais e de pesquisa. Elas são a base para o sistema DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que emite alertas rápidos de desmatamento na Amazônia, uma ferramenta reconhecida mundialmente.

    O ápice da autonomia nacional veio em 2021, com o lançamento do Amazônia-1. Ele foi o primeiro satélite de observação da Terra completamente desenhado, montado e testado em solo brasileiro. Sua missão principal é fornecer imagens de alta resolução para vigiar o desmatamento, especialmente na região amazônica, complementando os dados de outros satélites.

    O sucesso do Amazônia-1 consolidou a Plataforma Multimissão (PMM), uma estrutura modular desenvolvida pelo Inpe que pode ser adaptada para diferentes tipos de satélites e missões. Essa tecnologia permite ao Brasil construir novos equipamentos de forma mais rápida e barata, um passo estratégico para o futuro do programa.

    Comunicação e defesa no espaço

    O Brasil também opera no campo das comunicações. O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), lançado em 2017, é um exemplo de projeto de uso duplo. Ele garante comunicações seguras para as Forças Armadas e, ao mesmo tempo, leva internet de banda larga a regiões remotas do país, incluindo escolas e postos de saúde em locais onde a fibra óptica não chega.

    O SGDC representou um investimento significativo e colocou o Brasil em um seleto grupo de países com satélites geoestacionários próprios. Sua operação é controlada por brasileiros a partir de estações em Brasília e no Rio de Janeiro, garantindo a soberania sobre as comunicações estratégicas do governo federal.

    O desafio dos foguetes

    Se a área de satélites é um ponto de orgulho, a de lançadores é o maior desafio. O Brasil busca há décadas desenvolver um foguete próprio para colocar seus satélites em órbita a partir de Alcântara, o que traria autonomia total ao programa espacial. A principal aposta foi o Veículo Lançador de Satélites (VLS).

    No entanto, dificuldades e o trágico acidente de 2003, quando o foguete explodiu na plataforma de lançamento dias antes do voo, causando a morte de 21 técnicos, marcam a trajetória do VLS. O evento foi um golpe profundo para o programa, mas não o encerrou. As investigações levaram a aprimoramentos nos protocolos de segurança e na tecnologia.

    Hoje, o foco está no desenvolvimento de veículos de menor porte. O Veículo Lançador de Microssatélites (VLM) é a principal aposta atual. Projetado para colocar em órbita cargas de até 30 quilos, atende a uma demanda crescente do mercado global de pequenos satélites e serve como um passo importante para o domínio da tecnologia de lançamento.

    O futuro do programa espacial

    O futuro do programa espacial brasileiro passa pela consolidação de suas áreas de sucesso e pela superação dos desafios históricos. A continuidade do desenvolvimento de satélites da família Amazônia está planejada, com os modelos 1B e 2, para garantir a vigilância contínua do território.

    Em paralelo, o Centro Espacial de Alcântara se abre para o mercado global. Após a ratificação do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos, a base pode receber lançamentos de foguetes de empresas e governos de todo o mundo. Sua localização privilegiada, próxima à linha do Equador, permite uma economia de até 30% no combustível, tornando-a comercialmente atraente.

    A exploração comercial de Alcântara pode gerar receitas importantes para financiar os projetos nacionais, incluindo o desenvolvimento de novos foguetes. O objetivo é criar um ciclo virtuoso, no qual a infraestrutura brasileira gera recursos que impulsionam a própria tecnologia do país.

    Apesar dos percalços orçamentários e dos reveses, o programa espacial brasileiro demonstra resiliência. Os feitos alcançados mostram uma capacidade tecnológica sólida, essencial para um país com as dimensões e os desafios do Brasil.

    Investir no setor espacial não é apenas uma questão de prestígio, mas de soberania, segurança e desenvolvimento econômico. Os satélites, foguetes e a ciência gerada por eles são ferramentas indispensáveis para proteger o meio ambiente, conectar a população e garantir um futuro mais tecnológico para o país.

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  • Leis bizarras pelo mundo que continuam valendo e vão te surpreender

    Leis bizarras pelo mundo que continuam valendo e vão te surpreender

    Você já imaginou receber uma multa por dar descarga no vaso sanitário tarde da noite? Ou conviver com uma regra que impeça a compra de um simples chiclete em uma viagem internacional? Embora pareçam situações retiradas de um roteiro de comédia, leis como essas existem e continuam em vigor em diferentes partes do mundo e surpreendem turistas e até mesmo os próprios moradores.

    Essas leis, muitas vezes criadas em contextos específicos, se tornam curiosidades legislativas. Elas revelam muito sobre a cultura, os valores e as preocupações de uma sociedade em um determinado período. De normas para garantir o sossego a regras para manter a limpeza urbana, o resultado é um conjunto de textos que desafiam a lógica moderna e configuram boas histórias.

    Leis para o bem-estar coletivo

    Muitas das leis mais inusitadas nasceram de uma preocupação genuína com a convivência em comunidade. Na Suíça, por exemplo, se leva a paz e o silêncio a sério. Em muitos prédios, regulamentos internos proíbem dar descarga, tomar banho ou usar a máquina de lavar depois das 22h para não perturbar os vizinhos. A regra não é uma lei nacional, mas uma norma condominial comum e que pode gerar advertências.

    Em Singapura, a limpeza é uma obsessão nacional. Desde 1992, se proíbe a importação e a venda de chicletes no país. A medida veio para eliminar os custos com a limpeza de gomas de mascar descartadas em locais públicos, como calçadas e trens. A exceção fica por conta de chicletes com fins terapêuticos, como os de nicotina, que só podem ser comprados em farmácias.

    Além disso, na Itália, a cidade de Veneza luta contra a superpopulação de pombos, que causam danos aos monumentos históricos. Para controlar a situação, uma lei municipal de 2007 proibiu a alimentação das aves na Praça de São Marcos e em seus arredores. Quem for pego desrespeitando a norma pode receber uma multa salgada, que serve como um lembrete do custo de manter o patrimônio preservado.

    Regras que protegem os animais

    O respeito aos animais também inspira leis curiosas. A cidade de Turim, também na Itália, por exemplo, mantém uma lei que obriga donos de cães a passear com seus pets pelo menos três vezes ao dia. A legislação, que visa garantir o bem-estar animal, prevê multas para quem não cumprir a exigência. 

    Já na Suíça, a legislação vai além e considera crime manter apenas um porquinho-da-índia. Como são animais sociais que sofrem com a solidão, a lei federal de proteção animal exige que eles sejam mantidos em pares ou grupos. Existem até serviços de “aluguel” de porquinhos-da-índia para fazer companhia a um animal que ficou viúvo, evitando que seu dono infrinja a lei.

    Na França, uma lei que data da época de Napoleão Bonaparte proíbe o batismo de qualquer porco com o nome do imperador. Embora se debata a origem exata da norma, acredita-se que ela foi criada para proteger a honra e a imagem do líder francês. Mesmo que a fiscalização seja praticamente inexistente hoje, nunca se revogou formalmente o texto.

    Tradições e costumes que viraram lei

    Algumas proibições estão enraizadas em tradições e costumes antigos. No Reino Unido, uma lei de 1986, chamada “Salmon Act”, torna ilegal “manusear um salmão em circunstâncias suspeitas”. O objetivo foi combater a pesca ilegal e a venda de peixes roubados. Embora soe vaga, a intenção era dar às autoridades uma ferramenta para investigar a origem do pescado.

    Ainda na Inglaterra, é tecnicamente ilegal morrer dentro do Palácio de Westminster, sede do Parlamento Britânico. A razão é que o local tem o status de palácio real, e qualquer pessoa que morra ali teria direito a um funeral de Estado, um evento caro e complexo. Por isso, se alguém passa mal no local, é rapidamente levado para um hospital próximo para que o eventual óbito não seja declarado no palácio.

    No Canadá, uma lei monetária limita a quantidade de moedas que podem ser usadas em uma única transação. O “Currency Act” de 1985 estipula, por exemplo, que não se pode pagar mais de 25 dólares usando apenas moedas de um dólar. A medida foi pensada para evitar transtornos no comércio e garantir a fluidez das transações financeiras.

    Leis locais com efeitos curiosos

    Muitas das regras mais estranhas são encontradas em níveis estaduais ou municipais. No estado do Arizona, nos Estados Unidos, uma lei proíbe que burros durmam em banheiras. A norma surgiu nos anos 1920, após um rancheiro ter o costume de deixar seu burro dormir em uma banheira antiga. Um dia, uma inundação repentina arrastou a banheira com o animal, exigindo um grande esforço da comunidade para o resgate.

    Em Connecticut, também nos EUA, para ser considerado oficialmente um picles, o alimento deve quicar. A lei surgiu em 1948, quando dois produtores de picles foram presos por venderem produtos impróprios para o consumo. Na investigação, as autoridades estabeleceram que um picles de qualidade deveria saltar ao ser solto de uma altura de um pé (cerca de 30 centímetros). A regra virou um padrão de qualidade local.

    Na Austrália, no estado de Victoria, é proibido trocar uma lâmpada se você não for um eletricista licenciado. A lei visa garantir a segurança e evitar acidentes domésticos. Desrespeitar a norma pode resultar em multa. Embora a fiscalização em residências seja difícil, a regra se aplica rigorosamente em ambientes comerciais e alugados.