O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) trouxe novamente os holofotes para a mais alta corte do país. Movimentações como essa mostram como as decisões tomadas pelos 11 ministros em Brasília impactam diretamente a vida de milhões de brasileiros, da economia à política.
Essa mistura de poder, direito e bastidores políticos não chama a atenção apenas no noticiário. O universo dos tribunais superiores, com seus rituais, tensões e decisões que moldam a sociedade, é um prato cheio para o cinema e a televisão. Roteiristas e diretores frequentemente usam esse cenário para criar narrativas sobre justiça, corrupção e o funcionamento das instituições.
Seja em produções que recriam casos reais ou em ficções que se inspiram na complexidade do sistema judicial, as telas oferecem um espelho, por vezes distorcido, do que acontece nos corredores do poder. Essas obras ajudam a formar a percepção do público sobre o papel da Justiça e exploram os dilemas éticos enfrentados por quem tem o poder de julgar. Relembre a seguir cinco filmes e séries que mergulharam nesse universo.
“O Mecanismo”
Lançada em 2018, a série brasileira criada por José Padilha e Elena Soarez tornou-se um fenômeno ao dramatizar os bastidores da Operação Lava Jato. A trama acompanha um grupo de policiais federais que descobre um esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e políticos, uma investigação que abala as estruturas do poder no Brasil.
Embora focada no trabalho policial, a produção retrata como as investigações avançam para as instâncias superiores da Justiça. O STF aparece como o palco final onde delações são homologadas, prisões são decididas e recursos são julgados. A série explora a pressão política sobre os juízes e a complexa teia de interesses que cerca as decisões judiciais em casos de grande repercussão.
A narrativa, ainda que ficcionalizada, baseia-se em eventos e personagens reais, o que gerou debates sobre os limites entre ficção e realidade. “O Mecanismo” foi fundamental para popularizar discussões sobre o sistema de justiça criminal e o papel das altas cortes no combate à corrupção.
“O Processo”
Este documentário de 2018, dirigido por Maria Augusta Ramos, oferece um olhar direto e sem narração sobre um dos momentos mais turbulentos da história política recente do Brasil: o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A câmera acompanha de perto os bastidores no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal.
O filme se destaca por mostrar o papel crucial do STF durante todo o rito. O então presidente do Supremo, ministro Ricardo Lewandowski, presidiu as sessões de julgamento no Senado, garantindo o cumprimento das regras constitucionais. O documentário captura a formalidade, a tensão e os debates jurídicos que ocorreram longe dos olhos do grande público.
Diferente de uma série de ficção, “O Processo” revela a liturgia e o funcionamento real do tribunal em um momento de crise institucional. Ele permite ao espectador entender a dinâmica entre os poderes e como o Judiciário atua como mediador e garantidor da ordem constitucional, mesmo sob intensa pressão política.
“Suprema”
O filme de 2018 conta a história real de Ruth Bader Ginsburg, uma das mais icônicas juízas da Suprema Corte dos Estados Unidos. A trama foca no início de sua carreira, quando, ao lado do marido, ela assume um caso tributário que se tornaria um marco na luta contra a discriminação de gênero no país.
A produção ilustra como uma única decisão judicial pode ter um impacto transformador na sociedade. Ao levar o caso até as últimas instâncias, a jovem advogada desafiou séculos de precedentes legais que tratavam homens e mulheres de forma desigual. O filme mostra o caminho árduo para construir uma argumentação capaz de mudar a mentalidade de um sistema judicial conservador.
“Suprema” é uma aula sobre como o direito evolui e como a atuação em tribunais superiores pode ser uma ferramenta para o avanço dos direitos civis. Embora se passe nos Estados Unidos, a história de Ginsburg ressoa globalmente, destacando a importância de uma Suprema Corte atenta às mudanças sociais.
“O Veredicto”
Um clássico de 1982 dirigido por Sidney Lumet, este filme traz Paul Newman no papel de um advogado alcoólatra e desacreditado que vê uma última chance de redenção. Ele assume um caso de erro médico contra um hospital poderoso e se depara com um sistema judicial que parece favorecer os mais fortes.
Ainda que a trama não envolva diretamente uma suprema corte, “O Veredicto” é uma poderosa reflexão sobre a busca por justiça. O filme expõe as falhas, a corrupção e os dilemas éticos dentro do sistema legal, mostrando como a integridade de juízes, advogados e jurados é constantemente testada.
A história aborda a percepção pública de que a Justiça pode ser lenta, burocrática e, por vezes, inacessível aos cidadãos comuns. Ele levanta questões universais sobre o papel do Judiciário como o último recurso para a defesa dos direitos individuais contra grandes corporações e instituições, um tema central na missão de qualquer tribunal superior.
“O Doutrinador”
Baseado em uma história em quadrinhos brasileira, o filme de 2018 e a série derivada apresentam uma visão distópica e radical da justiça. A trama segue um agente federal que, após uma tragédia pessoal, se transforma em um vigilante mascarado que caça e elimina políticos e empresários corruptos.
Nessa narrativa de ação, o sistema judicial, incluindo as cortes superiores, é retratado como falho, lento e incapaz de punir os poderosos. O protagonista decide fazer justiça com as próprias mãos justamente por não acreditar mais nas instituições. A obra canaliza um sentimento de frustração popular com a impunidade.
“O Doutrinador” oferece uma perspectiva crítica e sombria, onde a Justiça oficial é vista como parte do problema. Embora seja uma fantasia de ação, a produção dialoga com a desconfiança de parte da população em relação ao sistema político e judicial, servindo como um termômetro ficcional de insatisfações reais.









