Belo Horizonte é muito mais do que a capital dos bares e da boa comida. No coração da cidade, ruas e edifícios guardam capítulos essenciais da história de Minas Gerais e do Brasil. Com o interesse renovado em narrativas nacionais, como a participação do país na Segunda Guerra Mundial, um roteiro pelo centro da capital mineira se torna um programa indispensável para quem busca uma imersão no passado.
Para os amantes de história, um dia caminhando pela região central revela desde os bastidores do poder na República Velha até as memórias dos soldados que lutaram na Europa. Este circuito a pé conecta museus, praças e centros culturais que, juntos, montam um quebra-cabeça fascinante da identidade brasileira. Prepare um calçado confortável e venha desvendar esses tesouros.
Manhã: poder e cultura na Praça da Liberdade
O ponto de partida ideal é o Circuito Liberdade, um complexo cultural que ocupa os antigos prédios das secretarias de estado. A própria praça, projetada para ser o centro do poder da nova capital, já é uma aula de história a céu aberto. Seus jardins e arquitetura contam a transição de um Brasil agrário para uma república que sonhava com a modernidade.
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Comece pelo Memorial Minas Gerais Vale. O espaço oferece uma jornada interativa pela cultura e história mineira, desde o século 18 até os dias atuais. As salas são temáticas e exploram desde a vida rural e as tradições religiosas até a literatura de autores como Carlos Drummond de Andrade. É o contexto perfeito para entender a alma do estado.
A poucos passos dali, o Museu das Minas e do Metal aprofunda a narrativa sobre a principal atividade econômica que moldou a região. O acervo não se limita a pedras preciosas. Ele detalha a ciência por trás da mineração e o impacto social da extração de riquezas que financiaram o Brasil Colônia e o Império. A visita ajuda a compreender a origem de muitas fortunas e conflitos do país.
Para fechar a manhã, explore o Espaço do Conhecimento UFMG. O museu mescla ciência e história de forma criativa. Seu planetário é famoso, mas o destaque para quem busca o passado está na exposição permanente que reconstitui a ocupação humana em Minas Gerais desde os tempos pré-históricos. A fachada do prédio, tombada pelo patrimônio histórico, também merece atenção.
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Parada obrigatória: o Museu da FEB
Após o almoço na região da Savassi, vizinha à Praça da Liberdade, a próxima parada é o Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Localizado na Rua Tupis, 723, no Centro de BH, o local é um guardião da memória dos “pracinhas”, os soldados brasileiros que combateram o nazifascismo na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. A visita é um mergulho em um dos momentos mais importantes e, por vezes, esquecidos da história do Brasil no século 20.
O acervo é rico e emocionante. Ele reúne uniformes, armas, equipamentos, documentos, fotos e objetos pessoais dos combatentes. Cada item conta uma pequena história sobre coragem, sacrifício e a adaptação dos brasileiros a um cenário de guerra completamente estranho. A exposição é organizada de forma didática, permitindo que o visitante entenda todo o contexto do conflito e o papel estratégico do Brasil ao lado dos Aliados.
Este museu oferece uma perspectiva humana da guerra. As cartas enviadas para casa, os diários e os relatos de ex-combatentes revelam os medos e as esperanças de jovens que cruzaram o oceano para lutar pela liberdade. É uma experiência que conecta o visitante diretamente com um pedaço fundamental da nossa trajetória como nação.
Tarde: os trilhos que construíram a cidade
Do Museu da FEB, uma caminhada ou um curto trajeto de transporte leva à Praça da Estação. O local é um marco zero de Belo Horizonte, o ponto de chegada dos materiais e trabalhadores que ergueram a nova capital planejada. O imponente prédio da Estação Central domina a paisagem e remete a uma época em que as ferrovias eram sinônimo de progresso.
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Ali se encontra o Museu de Artes e Ofícios, uma homenagem à história do trabalho no Brasil. Seu acervo, com mais de duas mil peças dos séculos 18 ao 20, celebra as ferramentas, técnicas e a engenhosidade dos trabalhadores de diferentes áreas, da marcenaria à tecelagem.
Fim de tarde: arte, natureza e história
Para encerrar o dia, caminhe da Praça da Estação pela Avenida Afonso Pena em direção ao Palácio das Artes. O espaço é um ícone da arquitetura modernista e um ponto de encontro de diversas manifestações artísticas. Sua história se mistura com a própria vanguarda cultural de Belo Horizonte.
Ao lado, o Parque Municipal Américo Renné Giannetti oferece um refúgio de tranquilidade e mais história. Inaugurado em 1897, antes mesmo da própria cidade, é o patrimônio ambiental mais antigo de Belo Horizonte. Passear por suas alamedas é como voltar no tempo, observando o Teatro Francisco Nunes e outros pequenos monumentos que resistem ao ritmo acelerado da metrópole.


