A notícia parece boa: a inflação oficial recuou. Mas na hora de passar no caixa do supermercado, a conta continua alta e a sensação é de que nada mudou. Se você se sente assim, saiba que não está sozinho e existe uma explicação clara para essa diferença entre os números do governo e o seu bolso.
Em agosto, o índice que mede a inflação no país registrou uma queda de 0,11%, o menor resultado desde 2022. O alívio foi puxado principalmente pela redução nos custos da energia elétrica e de alguns alimentos. No entanto, uma queda na inflação não significa, necessariamente, uma queda generalizada nos preços que você paga no dia a dia.
O que é inflação, afinal?
Para entender essa aparente contradição, é preciso primeiro compreender o que é a inflação. De forma simples, ela é o aumento geral dos preços de produtos e serviços. Quando dizemos que a inflação “caiu”, estamos falando que a velocidade com que os preços sobem diminuiu.
Imagine um carro que estava a 120 km/h e reduziu para 80 km/h. Ele não parou nem deu ré; apenas diminuiu o ritmo. A inflação funciona de forma parecida. Uma taxa menor indica que os preços continuam subindo, mas de maneira mais lenta do que antes.
Para que os preços realmente caíssem, precisaríamos de um cenário de deflação, que é quando o índice de inflação fica negativo por um período prolongado. O que ocorreu em agosto foi um recuo pontual, não uma tendência de queda nos valores das mercadorias.
Por que alguns preços caem e outros não?
O cálculo oficial da inflação, feito pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é uma média baseada em uma “cesta” de centenas de produtos e serviços. Essa cesta inclui desde o arroz e feijão até o aluguel, passando por transporte e lazer.
Quando um item de grande peso nessa cesta tem seu preço reduzido, como a energia elétrica, ele pode “puxar” a média geral para baixo. Isso mascara o fato de que muitos outros itens podem ter continuado a subir de preço no mesmo período.
É por isso que sua percepção no supermercado pode ser diferente. A conta de luz pode ter barateado, mas o aluguel, a mensalidade escolar ou o cafezinho na padaria podem ter seguido o caminho inverso. A sua cesta de consumo pessoal dificilmente é igual à cesta média usada no cálculo oficial.
O efeito da inércia nos preços
Outro fator importante é a inércia. Os preços no varejo não respondem imediatamente às mudanças macroeconômicas. O dono do mercado, por exemplo, comprou o estoque do mês passado com o preço antigo, mais alto. Ele não vai reduzir o valor na prateleira até que consiga comprar novos produtos por um custo menor.
Da mesma forma, muitos serviços têm seus preços reajustados anualmente, como aluguéis e planos de saúde. Esses contratos não são alterados mês a mês, o que significa que aumentos passados continuam a impactar seu orçamento por um bom tempo.
Existe também um componente de expectativa. Empresários podem hesitar em baixar os preços com receio de que os custos voltem a subir em breve. Essa resistência ajuda a manter os valores em patamares elevados, mesmo quando alguns indicadores econômicos melhoram.
Quando a queda chega ao bolso?
A velocidade com que uma desaceleração da inflação é sentida pelo consumidor varia muito. Preços mais voláteis, como os de combustíveis e alimentos frescos, podem mudar rapidamente. Já os de bens industrializados e, principalmente, de serviços, demoram mais para se ajustar.
A queda da inflação é um sinal positivo para a economia, pois indica que a escalada de preços está sendo controlada. Contudo, a tradução desse número para um alívio real e perceptível nas finanças pessoais é um processo gradual, que depende da estabilidade desse cenário ao longo de vários meses.
Se a inflação caiu, por que o preço do pão continua subindo?
A inflação é uma média de centenas de produtos e serviços.
A queda no índice geral pode ter sido puxada pela energia elétrica, por exemplo.
Enquanto isso, os custos do padeiro, como trigo e mão de obra, podem ter aumentado.
É a sua experiência pessoal de consumo que define a sua inflação particular.
O que é deflação e por que é diferente da queda na inflação?
Queda na inflação, ou desinflação, significa que os preços estão subindo mais devagar.
Um produto que subiu 10% no mês passado, agora sobe 5%. Ele continua mais caro.
Deflação é a queda geral e contínua dos preços. O índice de inflação fica negativo.
Embora pareça bom, a deflação prolongada pode ser prejudicial para a economia.
Quanto tempo leva para a queda da inflação chegar ao meu bolso?
Não há um prazo fixo, pois depende do produto ou serviço.
Preços de combustíveis e alimentos frescos podem reagir em semanas.
Já os custos de serviços, como aluguel e educação, são reajustados anualmente.
Um alívio mais amplo e generalizado pode levar vários meses para ser percebido.
A queda da inflação significa que meu poder de compra vai aumentar?
Não necessariamente. A queda da inflação significa que seu dinheiro perde valor mais lentamente.
Seu poder de compra só aumenta se o seu salário subir mais do que os preços.
Se a inflação for de 5% e seu reajuste for de 3%, você ainda perde poder de compra.
O cenário ideal é um aumento salarial acima da inflação acumulada.














